O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com "impactos deletérios" sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade. O aviso foi feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que divulgou há pouco a ata do encontro que elevou a Selic para 10,75% ao ano na semana passada.
O Comitê repetiu que monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. "Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas", escreveram os diretores do colegiado.
A cúpula do BC voltou a dizer que uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação. Também são essenciais para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária, de acordo com o documento.
O Comitê informou ainda que incorpora em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo. "Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego."