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Espanha vive cenários de salários estagnados, imóveis caros e mais migrantes

Publicado 25.04.2019, 08:09
Espanha vive cenários de salários estagnados, imóveis caros e mais migrantes

Ana Alemán.

Madri, 25 abr (EFE).- A Espanha chega às eleições de domingo em um momento conturbado, sem ter se recuperado totalmente da crise econômica e enfrentando novos desafios como a baixa natalidade e o alto preço dos imóveis.

SALÁRIOS, EMPREGO, MORADIA.

Entre 2010 e 2017, o salário médio ficou estagnado em torno de 1.800 euro mensais, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), apesar de o país ter superado a recessão econômica que provocou uma diminuição nos anos anteriores.

Além disso, em um país que foi referência das mobilizações feministas de 8 de março, a disparidade salarial entre homens e mulheres chega a 22,3%. Isso significa que as mulheres recebem, anualmente e em média, quase 5.800 euros a menos do que os homens que exercem a mesma função.

Apesar da recuperação econômica, a taxa de desemprego continua elevada, de 14,45%. Além disso, quase 90% dos novos empregos são de caráter temporário, e a porcentagem de contratos de menos de uma semana duplicou entre 2007 e 2018.

Já o custo da moradia subiu muito mais que os salários. O preço de compra teve em 2018 um crescimento de 6,7%, o maior desde 2007, além de ter sido o quinto ano consecutivo de alta, segundo o INE.

O preço dos aluguéis subiu de 9,3% a 10% no ano passado, segundo vários estudos privados. O resultado é que a Espanha é o país da OCDE em que as famílias mais destinam porcentagem de renda com moradia: 37% delas alocam mais de 40% do que recebem com essa despesa.

INVERNO DEMOGRÁFICO.

Uma das principais consequências da instabilidade financeira é a queda no número de nascimentos: em 2018, a Espanha registrou a taxa de natalidade mais baixa desde 1941, sendo o antepenúltimo colocado entre os países da União Europeia no quesito.

Segundo o INE, 42% das mulheres de 18 a 55 anos atrasaram a maternidade mais do que o desejado por questões trabalhistas, e 88% das com menos de 30 não tiveram filhos.

"Tenho sorte, porque trabalho na empresa da família, mas se não tivesse uma boa condição de trabalho, teria sido obrigada a atrasar a maternidade até ter estabilidade", disse Amaia Mendizábal, de 28 anos e grávida de oito meses, que vive na cidade de Logroño, no norte da Espanha.

"Minhas amigas, por outro lado, estão em trabalhos precários, com salários muito baixos, e muitas sequer puderam se tornar independentes. Por isso, mesmo querendo ter filhos, elas deixam para muito mais tarde", explicou. "Não se pode ter um filho quando ainda se vive com os pais", sentenciou.

Enquanto cai a natalidade, aumenta a expectativa de vida dos espanhóis, que pode se tornar a maior em nível mundial em 2040. Segundo as projeções de população do INE, em 2033 um a cada quatro espanhóis terá 65 anos ou mais. E, em 2068, quase um a cada três.

Algumas possíveis causas do aumento da longevidade são a dieta mediterrânea, que ajuda a prevenir as doenças cardiovasculares, ou o sistema de saúde pública, considerado o sétimo mais eficaz do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

PREVIDÊNCIA E IMIGRAÇÃO.

Em relação à pirâmide demográfica invertida, manter o atual sistema de previdência implica um desafio cada vez maior: aumentar o número de trabalhadores que contribuem para a seguridade social, e em relação à falta de nascimentos, a única via que se abre é a da imigração.

Atualmente, os imigrantes representam 13% da população ativa, mas não é suficiente: o FMI calcula que seria necessária a chegada de 5,5 milhões de pessoas até 2050 para sustentar o sistema previdenciário, além de elevar o tempo e o valor da contribuição.

No entanto, a realidade é que a Espanha não conta com um sistema organizado de imigração, por isso muitos chegam ao país em condições subumanas, imigrantes ilegais. Portanto, sem poder trabalhar de forma legal.

JOVENS PRECÁRIOS E FUGA DE CÉREBROS.

Enquanto uns chegam, outros se veem obrigados a sair. Nada menos que 1 milhão de espanhóis emigraram desde o começo da crise financeira.

Os jovens altamente qualificados são as maiores vítimas desta "fuga de cérebros", devido à precariedade que costumam enfrentar: a educação universitária é de alta qualidade, mas a taxa de desemprego entre eles chega a 24,4%.

Muitos só encontram trabalho em jornada parcial, com salários baixos, e mais da metade trabalha em postos para os quais estão superqualificados.

O resultado é que quase 2 milhões de jovens espanhóis vivem em situação de pobreza, segundo um relatório de 2017 do Conselho da Juventude da Espanha.

Alejandro Ranchal, um madrilenho que faz doutorado na Universidade de Sydney, na Austrália, está há quatro anos fora da Espanha. "Na primeira vez que planejei sair foi quando me tiraram a bolsa de estudos universitária, apesar de ter um 9,7 de média de notas", afirmou ele à Efe. "Foi aí quando disse: 'se este país não investe em mim, também não vou investir neste país", alegou.

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