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Especialistas adiam perspectiva de início da queda do juro após IPCA de maio e ata

Publicado 15.06.2015, 17:03
© Reuters. Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência na Câmara dos Deputados

Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) - A resistência da inflação e o endurecimento do tom pelo Banco Central levaram especialistas a preverem que a Selic continuará alta por mais tempo e a adiarem a perspectiva sobre quando os juros começarão a cair no Brasil.

A pesquisa Focus do BC divulgada nesta segunda-feira mostrou que os economistas consultados continuam vendo a taxa básica de juros, atualmente em 13,75 por cento, em 14,0 por cento no fim do ano. Mas se antes viam o início do afrouxamento monetário em janeiro, agora apostam que a primeira queda da Selic virá apenas em março.

E o resultado da inflação oficial em maio fui crucial para a mudança de perspectiva. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu ao acelerar para 0,74 por cento em maio na comparação mensal, chegando a 8,47 por cento em 12 meses.

Com isso, a projeção do relatório Focus para a inflação no ano subiu para 8,79 por cento, ante 8,46 por cento na semana anterior, e já há quem tenha revisado sua perspectiva para o índice a 9,0 por cento no final do ano, como Bank of America Merrill Lynch e Credit Suisse.

Entre economistas, o início da redução da Selic pode começar até mesmo mais tarde em 2016, já que sazonalmente o primeiro trimestre é de inflação alta, o que pode levar o BC a aguardar mais um pouco para iniciar o ciclo de corte dos juros.

"Até o meio do ano que vem o BC ainda não vai ter certeza de que vai conseguir trazer a inflação para o centro da meta. A certeza para começar o ciclo de queda, na nossa leitura, só acontece em junho ou julho", destacou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que projeta a Selic a 14,5 por cento no fim deste ano e a 11,5 por cento em dezembro de 2016.

O BC endureceu, na ata da última reunião do Copom, seu discurso de combate à inflação, ressaltando a necessidade de "determinação e perseverança", o que contribuiu para a mudança na perspectiva para a trajetória dos juros.

"Por conta da própria sinalização de 'determinação e perseverança', o BC indica que vai sustentar esses juros em nível elevado para tentar convencer o mercado (de que a inflação vai convergir para a meta)", disse o economista da Votorantim Corretora Carlos Lopes.

Para ele, o BC elevará a Selic em mais 0,25 ponto percentual em julho, encerrando o ciclo de alta, e a manterá em 14 por cento até o início do segundo trimestre de 2016, quando começará a reduzi-la.

Segundo a economista-chefe do BNY Mellon ARX, Solange Srour, é muito difícil revisar para baixo as expectativas de inflação para 2016 devido às projeções cada vez mais altas para este ano.

"Há um adiamento da queda dos juros, porque a inflação deste ano vem sendo revisada para cima. E em 2016, se a inflacao for de 5,5 por cento (como apontado pelo Focus) já será uma vitória enorme do BC", disse ela.

Mas a economista destaca que as expectativas de longo prazo para o IPCA, apesar dos números para 2015, vêm caindo, e chegam a 4,5 por cento em 2019, centro da atual meta do governo.

"A maior vitória é conseguir colocar as expectativas longas em 4,5 por cento, a despeito da inflação que não para de surpreender para cima", completou ela, projetando mais uma alta de 0,25 ponto este ano e Selic a 12,5 por cento no fim de 2016, com o afrouxamento monetária iniciando no fim do segundo trimestre.

© Reuters. Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência na Câmara dos Deputados

Entretanto, para a economista do Santander Tatiana Pinheiro, mais importante do que a expectativa sobre o momento em que a Selic começa a cair em 2016 é o fato de que o tamanho do ciclo de que queda dos juros ano que vem continua o mesmo.

Isso só tem sido possível porque as expectativas de contração econômica para este ano têm piorado a cada semana, ancorando os números sobre a inflação no ano que vem e consequentemente os da Selic.

"É basicamente a desaceleração da atividade econômica ancorando as expectativas de redução da inflação e da Selic. O fato é que o ciclo de política monetária continua do mesmo tamanho, vai ser relevante quando ele diminuir", disse Tatiana.

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