Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A divulgação da abertura de inquérito contra oito ministros e dezenas de políticos, incluindo governadores, pegou de surpresa o Palácio do Planalto nesta terça-feira, que esperava uma decisão apenas na próxima semana, mas a ordem do presidente Michel Temer a seus auxiliares é evitar levar a crise para o Planalto e que cada um faça a sua própria defesa.
A expectativa no Planalto era de que a decisão só fosse tomada depois do feriado de Páscoa, o que permitiria ao governo pelo menos terminar o relatório da reforma da Previdência. No entanto, o discurso agora é que os inquéritos não têm por que atrapalhar as atividades do governo porque "não há um fato novo", segundo uma fonte, e o custo da crise já estava "precificado".
"O nível de preocupação continua o mesmo, as circunstâncias são as mesmas. Não há nenhum fato novo", disse a fonte palaciana.
A reação do Congresso, no entanto, mostra que pode sim haver uma turbulência não planejada em um momento em que o governo tem que ceder em partes importantes da reforma porque, apesar da enorme base aliada, não teria votos para aprová-lo.
Na tarde desta terça-feira, quando se previa votar o programa de ajuda aos Estados, o quórum desapareceu depois da divulgação das decisões de Fachin, que atingiram 24 dos 81 senadores e 35 dos 513 deputados, incluindo os presidentes das duas Casas - o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Fachin autorizou ainda abertura de inquérito contra três governadores e remeteu outros nove pedidos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
"Não tem nenhuma novidade. O Congresso Nacional vai continuar funcionando. Não posso falar outra coisa. Não podemos esperar outra coisa. As instituições prevalecem", disse o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira.
Ao chegar para mais uma reunião sobre a reforma, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também tentou minimizar o impacto. "Tenho poucos elementos para poder me manifestar sobre isso, mas eu acho que está dentro da normalidade. Não acho que atrapalha", disse.
Há cerca de um mês, o presidente pessoalmente informou à imprensa que só afastaria ministros envolvidos em casos de corrupção quando fossem denunciados. Apesar do envolvimento de oito nomes do primeiro escalão, inclusive Padilha e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência -nomes muito próximos de Temer, a abertura de inquéritos não levará, neste momento, a demissões.
Questionado sobre a sua inclusão nos inquéritos, Padilha afirmou que não falaria sobre o caso.
"Não falo sobre esse assunto. Sobre esse assunto só falo nos autos do processo. Processo a gente fala nos autos do processo", disse. Moreira Franco afirmou, por meio de sua assessoria, que também não comentaria.