SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que as expectativas de inflação subiram em meio a ruídos recentes, mas que a autoridade monetária entende que ao longo do tempo deve haver uma estabilização e posterior melhora nas projeções de mercado.
Ele pontuou que as expectativas de inflação haviam melhorado quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve a meta de inflação em 3% para 2026, em meados do ano passado, mas que voltaram a subir posteriormente, inclusive com ruídos recentes.
"(A expectativa de inflação) voltou a subir... A gente entende que no longo prazo isso deve se estabilizar e voltar a melhorar", disse Campos Neto em evento promovido pelo grupo Lide, em São Paulo.
O tom ligeiramente mais otimista em relação às expectativas por parte do presidente do BC veio em um dia em que o relatório Focus da autarquia mostrou nova piora nas expectativas de inflação do mercado para este ano e o próximo e um aumento inédito da expectativa para 2026, com todas as projeções firmemente acima da meta.
Campos Neto ressaltou que a percepção de que as expectativas estavam desancoradas foi muito importante para a decisão do BC de reduzir o ritmo do afrouxamento monetário em sua reunião deste mês.
Entre os fatores que contribuem para a desancoragem, ele citou ruídos relacionados às contas públicas no Brasil, a credibilidade do Banco Central e especulações sobre o compromisso com a meta de inflação. As dúvidas sobre quando o Federal Reserve começará a reduzir os juros foi outro fator que influenciou as expectativas.
"Precisamos ver como o cenário externo vai se comportar. Parece que teremos queda de juros (nos EUA) no fim do ano", disse.
Segundo ele, outro fator de ruído é a incerteza sobre o impacto fiscal do socorro emergencial ao Rio Grande do Sul, mas Campos Neto ponderou que essas dúvidas também devem diminuir com o tempo.
"Tem preocupação dos investidores com preços de alimentos, um pouco pelo que aconteceu no Rio Grande do Sul", acrescentou.
Ele afirmou, contudo, que a inflação no Brasil está convergindo para a meta, e se comportando de forma benigna no curto prazo.
Sobre a decisão dividida na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) -- em que cinco dirigentes votaram pelo corte de 25 pontos-base da taxa básica Selic e quatro votaram por 50 pontos-base -- Campos Neto defendeu que ela foi técnica, e não política.
"O tempo vai fazer as pessoas entenderem que a decisão é técnica", afirmou, acrescentando que no caso da mudança de comando no BC no próximo ano "o tempo vai tratar de endereçar".
Ele reconheceu que a divisão de votos do Copom gerou ruídos, mas ressaltou que a divergência girou em torno da questão do "forward guidance" (indicação futura), e não quanto aos condicionantes do cenário.
"Achamos que ao longo do tempo, com nossa comunicação, as pessoas vão entender que a divisão do Copom foi técnica", reforçou, reconhecendo ainda que a decisão mais recente "acabou influenciando a inflação implícita".
Campos Neto defendeu ainda que o BC mantenha a serenidade, mostre que a decisão recente sobre a Selic foi técnica e não brigue com as expectativas.
CENÁRIO EXTERNO
Em sua apresentação, Campos Neto pontuou que, no caso do cenário global, a preocupação "número 1" dos investidores é com a inflação.
"Patamares de inflação no mundo desenvolvido estão muito acima da média; nos emergentes, nem tanto", disse. "A inflação nos EUA tem sido grande tema, um fator predominante no movimento de reprecificação no mundo inteiro", acrescentou.
Campos Neto avaliou ainda que, apesar da inflação, o Fed está numa situação "relativamente confortável" neste momento, porque a economia vai bem.
"Não tem pressão tão grande para o Fed cortar juros neste momento", afirmou.
(Por Fabrício de Castro, reportagem adicional de Bernardo Caram)