Por Yawen Chen e Martin Quin Pollard
PEQUIM (Reuters) - As exportações da China caíram inesperadamente pelo ritmo mais forte em dois anos em dezembro, enquanto as importações também contraíram, indicando mais fraqueza na segunda maior economia em 2019 e deterioração da demanda global.
Dados divulgados nesta segunda-feira também mostraram que a China teve em 2018 o maior superávit comercial com os Estados Unidos já registrado, o que pode levar o presidente norte-americano, Donald Trump, a ampliar as ameaças sobre Pequim em sua disputa comercial.
Alguns analistas já especulam que Pequim pode ter que acelerar e intensificar suas políticas de afrouxamento e medidas de estímulo este ano, após a atividade industrial ter encolhido em dezembro.
As exportações da China em dezembro encolheram inesperadamente 4,4 por cento na comparação com o ano anterior, com a demanda na maioria de seus principais mercados enfraquecendo. As importações também surpreenderam, encolhendo 7,6 por cento, em seu maior declínio desde julho de 2016.
Analistas esperavam que o crescimento das exportações desacelerasse a 3 por cento, com as importações avançando 5 por cento.
"Os dados de hoje refletem um fim ao adiamento dos carregamentos e o início dos efeitos de rebote, enquanto a desaceleração global pode também pesar sobre as exportações da China", escreveram economistas do Nomura em nota, referindo-se ao aumento dos embarques para os EUA durante a maior parte do ano passado, conforme as empresas correram para se antecipar às tarifas.
O superávit da China com os EUA aumentou no ano passado em 17,2 por cento, para 323,32 bilhões de dólares, o mais elevado já registrado desde 2006, de acordo com cálculos da Reuters baseados em dados da alfândega.
O grande superávit comercial da China com os EUA é há tempos um ponto sensível com Washington, que tem exigido que Pequim adote medidas para reduzí-lo com força.
Washington impôs tarifas de importação sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses no ano passado e ameaçou novas ações se Pequim não mudar suas práticas em questões que variam de subsídios industriais a propriedade intelectual. A China retaliou com tarifas próprias.
No entanto, os dados de exportação de Pequim vinham sendo surpreendentemente resilientes às tarifas em grande parte de 2018, possivelmente porque as empresas aumentaram as remessas antes que a tarifas maiores e mais rígidas dos EUA entrassem em vigor.
Assim como muitos observadores do mercado previram, esse aumento diminuiu nos últimos meses. As exportações da China para os EUA caíram 3,5 por cento em dezembro, enquanto as importações dos EUA recuaram 35,8 por cento no mês.
O total das exportações globais da China subiu 9,9 por cento em 2018, seu desempenho mais forte em sete anos, enquanto as importações aumentaram 15,8 por cento.
Mas os dados de dezembro, juntamente com os vários meses de queda nos dados de encomendas à indústria, sugerem mais enfraquecimento de suas exportações no curto prazo.
"Na nossa opinião, uma recessão comercial é bem provável", disse Raymond Yeung, economista-chefe da ANZ, em uma nota, prevendo um período de contração das exportações semelhante ao de 2015 e 2016.
"O ciclo global de eletrônicos continua a ser o principal motor das exportações chinesas. Uma retração potencial no setor representa o risco real para a perspectiva externa de Pequim, mesmo que a China e os EUA cheguem a uma resolução sobre sua disputa comercial."
As tarifas mais altas que a China vem cobrando sobre os produtos dos EUA também atingiram o crescimento geral das importações. Para todo o ano de 2018, a soja, a segunda maior importação dos EUA, caiu pela primeira vez desde 2011.
Mesmo que Washington e Pequim cheguem a um acordo comercial em sua atual rodada de negociações, isso não será uma solução para a desaceleração da economia chinesa, disseram os analistas.
"A desaceleração das importações é consistente com outros sinais de que o crescimento na economia doméstica da China continua a enfraquecer", disse Louis Kuijs, chefe de economia da Ásia na Oxford Economics.
"O crescimento econômico global desacelerou ainda mais no quarto trimestre e continua sob pressão do enfraquecimento das exportações, do lento crescimento do crédito e da desaceleração da atividade imobiliária."