Por Howard Schneider e Ann Saphir
(Reuters) - Após entregarem uma decisão dividida sobre o corte da taxa de juros nesta semana, as autoridades do Federal Reserve norte-americano se abriram nesta sexta-feira a respeito de suas divergências, com alertas de desaceleração por um lado e de riscos financeiros por outro.
Os bancos centrais são frequentemente chamados a falar com uma voz única, mas no momento o Fed tem três --aqueles prontos para reduzir os juros ainda mais para evitar riscos econômicos, os que preferem se assentar e observar os dados por ora, e os que alertam que o Fed pode já estar abastecendo uma bolha de crédito.
"A economia está um boa posição", disse à CNBC o vice-chair do Fed, Richard Clarida, destacando, que embora haja riscos, também há um "ciclo virtuoso" em andamento para ganhos no mercado de trabalho e salariais, além de um crescente gasto entre as famílias.
O consumo representa quase 70% da economia norte-americana, e "eu não consigo pensar em um momento no qual o consumidor estivesse em melhor forma", disse Clarida.
Os formuladores de política monetária do Fed votaram 7 x 3 para reduzir a taxa de juros em 0,25 ponto percentual na quarta-feira, para um intervalo entre 1,75% e 2%, no segundo corte promovido pelo Fed neste ano.
A ação, apoiada por Clarida, visa compensar o lento crescimento global e os riscos associados à guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, com a China.
Mas, como primeira decisão do Fed desde 2016 a contar com três dissidentes, ficou clara a divisão. Uma série de visões no banco central norte-americano, com 17 autoridades sentadas à mesa (10 delas votantes), não é incomum.
O que é incomum, na verdade, é a divisão nítida e as razões para tal, todas em meio ao contexto político de um presidente que deseja cortes profundos de juros por uma lógica completamente diferente --para Trump, as reduções na taxa fariam a economia dos EUA ainda mais forte, com pouco ou nenhum risco, por causa da baixa inflação.
No entanto, mesmo aqueles que concordam com taxas mais baixas veem a situação de forma diferente, com o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, argumentando que o banco central deveria ter aprofundado o corte nesta semana para evitar enfraquecimentos, que incluem um setor manufatureiro que "já parece estar em recessão".
No outro extremo esteve o presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren. "Estímulos monetários adicionais não são necessários para uma economia em que os mercados de trabalho já estão apertados", disse Rosengren em uma nota, na qual explica sua posição contrária ao corte de juros.
Desafiando a visão de Trump, Rosengren afirmou que a política do Fed está incentivando ativamente as pessoas a tomarem empréstimos e "corre o risco de inflacionar ainda mais os preços de ativos de risco e encorajar famílias e empresas a assumirem alavancagem demais".
Não bastassem as duas posições, o presidente do Fed de Dallas, Robert Kaplan, disse a repórteres após um evento em Corpus Christi, no Texas, que os cortes de juros de julho e setembro "vão melhorar o panorama de crescimento e podem, na verdade, tornar menos provável que haja incentivos para que as pessoas emprestem, alavanquem e corram riscos --elas ainda podem fazê-lo, mas isso não será por causa dos juros mais baixos".
Kaplan, que não votou pelo corte mas argumentou a favor da medida, disse que não se comprometeu com novos cortes ainda neste ano, e com apenas um no ano que vem.
(Reportagem de Howard Schneider e Linsday Dunsmuir em Washington, Jonnelle Marte em Nova York e Ann Saphir em Corpus Christi)