Por Trevor Hunnicutt
JACKSON HOLE, Wyoming (Reuters) - A influência do Federal Reserve nas condições econômicas além da fronteira dos Estados Unidos pode ser maior do que a instituição acredita, de acordo com uma pesquisa a ser apresentada na conferência do banco central norte-americano neste sábado.
O novo artigo "Atenção para a lacuna nos Mercados Soberanos de Débito" argumenta que a política do Fed é um importante fator para determinar o custo e a disponibilidade do dólar norte-americano e de títulos do Tesouro do país.
O estudo utilizada dados sobre a demanda por títulos do Tesouro que poderiam refutar a declaração do presidente do Fed, Jerome Powell, em 2018, de que "o papel da política monetária dos Estados Unidos" no estabelecimento de condições globais de mercado que possam ajudar ou atingir o crescimento econômico seria "normalmente exagerado". O Fed estava aumentando taxas de juros na época, mas no mês passado cortou os custos de empréstimos pela primeira vez em mais de uma década para prevenir uma desaceleração.
"Houve um debate ativo entre formuladores de políticas sobre as repercussões da política monetária dos EUA para o resto do mundo", diz o artigo, em referência ao discurso de Powell. "Nossa análise indica que tais repercussões são intrínsecas ao funcionamento dos mercados de crédito internacional e dos mercados de câmbio."
Investidores respondem diretamente a políticas do Fed, reagindo, por exemplo, a taxas mais altas adquirindo mais títulos do governo norte-americano e valorizando o dólar, de acordo com os autores do artigo, Arvind Krishnamurthy e Hanno Lustig da Universidade de Stanford.
O desejo forte de compra de ativos dos Estados Unidos para buscar proteção em um mundo incerto tem sido um tema importante no ano de 2019. A guerra comercial entre EUA e China e uma economia global hesitante levaram os investidores a absorverem tantos títulos do Tesouro de 30 anos nos últimos dias, que os rendimentos caíram para uma mínima histórica de 1,916%.
A demanda para ativos seguros do dólar cresceu desde a crise financeira de 2008 e embalará ainda mais, segundo concluem os autores do artigo, apesar de previsões frequentes de que a moeda poderia perder espaço para outras.
O presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, ao falar na sexta-feira no mesmo retiro anual do Fed em Jackson Hole, no Estado norte-americano de Wyoming, disse que o domínio do dólar aumenta os riscos para o resto do mundo, e disse que os bancos centrais poderiam precisar trabalhar em conjunto para criar sua própria moeda reserva de substituição.
Embora o interesse forte em títulos do Tesouro ajuda os empréstimos dos EUA a baixas taxas, isso pode ser uma faca de dois gumes, permitindo que o governo e as empresas norte-americanas contraiam muitas dívidas. Em troca, isso poderia estabelecer o cenário para crises futuras, escreveram Krishnamurthy e Lustig. Autoridades do Fed também alertam para a alta histórica das dívidas das empresas norte-americanas.
Investidores estrangeiros conseguem "retornos excepcionalmente baixos" com seus investimentos no Tesouro, em parte porque as moedas desvalorizam durante tempos de pânico e porque a tendência de compra dos títulos acontece quando eles estão em alta demanda, de acordo com Krishnamurthy e Lustig. Os autores dizem que uma dependência em ativos dos EUA expõe os países a riscos de que eles não possam honrar suas dívidas se os ativos baseados no dólar estiverem em oferta limitada.