Por Ann Saphir e Jason Lange
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve (Fed) cortou a taxa básica de juros nesta quarta-feira, mas o chairman do banco central norte-americano afirmou que o movimento pode não ser o início de uma campanha prolongada para proteger a economia contra riscos que incluem uma fraqueza da economia global.
Jerome Powell citou sinais de uma desaceleração econômica mundial, destacando tensões comerciais dos Estados Unidos e um desejo de alavancar uma inflação demasiadamente baixa, ao explicar a decisão do banco central de reduzir os custos de empréstimos pela primeira vez desde 2008 e avançar nos planos de parar de reduzir sua massiva carteira de títulos.
"Deixe-me ser claro: este não é o início de uma longa série de cortes de juros", disse Powell em entrevista coletiva após a divulgação do comunicado da decisão de política monetária do Fed. Mas, ao mesmo tempo, Powell afirmou que "não disse que é apenas um corte de juros".
Os mercados financeiros esperavam amplamente o corte de 0,25 ponto percentual, que reduziu a taxa de referência do banco central norte-americano a uma faixa de 2% a 2,25%. Mas muitos operadores aguardavam esclarecimentos a respeito de futuros cortes.
O presidente dos EUA, Donald Trump --que tem repetidamente atacado a política monetária do Fed sob o comando de Powell e exigiu que o banco central realizasse grandes cortes de juros-- afirmou no Twitter que o chairman do Fed "nos decepcionou" por não indicar que um afrouxamento agressivo está a caminho.
Os mercados acionários norte-americanos recuaram durante a coletiva de Powell. O índice S&P 500 fechou o dia em queda de 1,1%. O rendimento dos Treasuries de dois anos --"proxy" das expectativas para os juros de curto prazo nos EUA-- avançou para 1,87%. O índice do dólar saltou a uma máxima em mais de dois anos.
Ken Polcari, diretor-geral da Butcher Joseph Asset Management, disse que a mensagem de Powell "não foi a que o mercado estava esperando ouvir", ainda que a maioria dos operadores esperasse um corte na taxa. "Ele não está fechando a porta, mas também não está dizendo que há um outro corte vindo em setembro, então vamos parar e esperar", afirmou Polcari.
COMUNICADO
Em comunicado ao fim de sua reunião de dois dias, o Fed disse que decidiu cortar os juros "em face das implicações de desdobramentos globais para a perspectiva econômica, bem como pressões inflacionárias fracas."
O Fed disse que continuará a monitorar como as informações que forem chegando afetarão a economia, acrescentando que "agirá conforme apropriado para sustentar" a expansão econômica recorde nos EUA.
A decisão não foi unânime, com os presidentes do Fed de Boston, Eric Rosengren, e de Kansas City, Esther George, defendendo a manutenção da taxa de juros.
Ambos levantaram dúvidas sobre um corte de juros diante da atual expansão, de uma taxa de desemprego que está perto da mínima de 50 anos e de gastos robustos das famílias.
Nas últimas semanas, Powell e outras autoridades do Fed optaram por ficar no meio-termo, sinalizando riscos como a contínua incerteza no front comercial global, inflação baixa e um enfraquecimento da economia global, mas repetindo a visão de que os EUA estão fundamentalmente em um bom lugar.
O Fed disse em seu comunicado que continua a ver o mercado de trabalho como "forte" e acrescentou que os gastos da família "ganharam ritmo." Mas a autoridade notou que o gasto empresarial estava morno.
O Fed disse que o corte de juros deve ajudar a inflação a voltar à meta de 2%, mas que incertezas sobre esta perspectiva permanecem. A expansão sustentada da atividade econômica e um forte mercado de trabalho também são os desfechos mais prováveis, disse o Fed.
Destacando sua decisão de afrouxar a política monetária de forma geral, o Fed também disse que irá parar de enxugar sua carteira de títulos a partir de 1º de agosto, dois meses antes do previsto.
(Reportagem de Ann Saphir e Jason Lange, com reportagem adicional de Lewis Krauskopf e Herbert Lash em Nova York)