Por Gabriel Codas
Investing.com - O Banco Central divulgou nesta segunda-feira (8) a edição semanal do Boletim Focus. O documento trouxe novas reduções nas estimativas dos analistas de mercado para o desempenho do PIB brasileiro e da inflação oficial para o fechamento do presente calendário. Os dados ampliam a tendência negativa da economia do país em meio à crise vivida devido à pandemia do coronavírus.
PIB
Os economistas ouvidos pelo BC cortaram pela décima sétima semana seguida a projeção de queda do PIB brasileiro no ano. A projeção agora é uma queda de 6,48% do PIB em 2020, contra 6,25% da semana passada. Há quatro semanas, a estimativa estava em -4,00%. Para 2021, a estimativa segue em 3,50% e se manteve em 2,50% para 2022 e 2023.
Em abril de 2020, a produção industrial caiu 18,8% frente a março de 2020 (série com ajuste sazonal), queda mais acentuada desde o início da série histórica, em 2002, refletindo os efeitos do isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. Esse é o segundo mês seguido de queda na produção, acumulando nesse período perda de 26,1%.
Em relação a abril de 2019 (série sem ajuste sazonal), a indústria recuou 27,2%, sexta queda consecutiva e o recorde negativo da série histórica nessa comparação. A indústria acumulou redução de 8,2% no ano. No acumulado em 12 meses, a indústria recuou 2,9%. A publicação completa da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) está à direita
Inflação
Os analistas novamente levaram para baixo a estimativa da inflação oficial, de 1,55% da projeção da semana passada para 1,53%. Há quatro semanas, a aposta era de um IPCA a 1,76% no fim do ano. A aposta para o fechamento do ano-calendário segue abaixo do centro da meta de 4,00% e abaixo do da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
Houve a manutenção as estimativas de inflação para 2021 - horizonte da política monetária do Banco Central sob o sistema de metas de inflação -, com os analistas estimando o IPCA em 3,10% A estimativa também fica abaixo do centro da meta de inflação estipulado para o ano que vem, de 3,75%.
Na próxima quarta-feira, 10, o IBGE irá divulgar os números oficiais da inflação do mês de maio.
Selic
O constante cenário de deterioração das projeções do PIB e IPCA - especialmente da inflação no próximo ano, horizonte da política monetária - suportam renovadas apostas de corte da Selic na próxima reunião do Copom. Seguindo a última decisão da autoridade monetária, que surpreendeu o mercado ao cortar a Selic em 0,75 ponto percentual, de 3,75% para 3,00% ao ano, os economistas consultados pelo Focus esperam o final do ciclo de ultra afrouxamento monetário em 2,25% em 2020, com um corte adicional de 0,75 ponto percentual na próxima reunião em junho.
Há quatro semanas, a expectativa era que a Selic fechasse 2020 em 2,50%. O texto da última decisão do BC limita o atual ciclo de flexibilização com a taxa Selic em 2,25% ao ano.
Os analistas também estimam que o ciclo da alta de juros se inicie ano que vem, com uma Selic a 35% no fim de 2021. Já para 2022, a projeção foi reduzida para 5%, e a de 2023 se manteve em 6,00%.
Na última quinta-feira, o O JPMorgan cortou a 1,75% a expectativa para a meta Selic ao fim deste ano, ante estimativa anterior de 2,50%, citando melhora do ambiente externo e riscos crescentes de uma recuperação econômica mais fraca no Brasil.
O banco passou a ver corte de 0,75 ponto percentual da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês (contra 0,50 ponto percentual antes), e adicionou uma redução de 0,50 ponto no encontro de agosto, quando o BC pararia o ciclo de afrouxamento monetário, segundo o JPMorgan.
Além disso, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou na quarta-feira que o nível de 2,25% para a Selic não é algo "escrito na pedra" e reiterou que o BC está longe de um limite a partir do qual a redução dos juros perderia eficácia, razão pela qual pode continuar a fazer política monetária como usualmente.
"Não vi esse 2,25% como algo que foi escrito na pedra, algo fixo, que temos que ter em mente e não podemos cruzar", disse ele em inglês, ao participar de evento virtual promovido pela American Chamber of Commerce.
Dólar
Em relação ao dólar, as apostas de 2020 foram mantidas R$ 5,40, após encerrar 2019 a R$ 4,0195. A moeda americana iniciou o forte período de volatilidade após o Carnaval, quebrando sucessivos recordes máximos de fechamento, chegando a se aproximar de R$ 6,00 em meados de maio. Na última sexta-feira, a moeda americana ficou abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde março.
Há quatro semanas, os analistas projetavam no Focus um dólar a R$ 5,00 no fim do ano. No ano que vem, as estimativas foram mantidas em R$ 5,08.