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Galípolo diz não acreditar em “grandes rupturas” na atuação do BC

Publicado 26.08.2024, 18:06
© Reuters Galípolo diz não acreditar em “grandes rupturas” na atuação do BC

O diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, disse nesta 2ª feira (26.ago.2024) que não acredita em “grandes rupturas” na atuação da autoridade monetária. Ele afirmou que o BC está aberto a todas as alternativas para a definição da taxa básica, a Selic.

Galípolo declarou que o Banco Central tem um modelo institucionalizado de análise dos dados econômicos e que as divergências entre os diretores que integram o Copom (Comitê de Política Monetária) são “granulares”. Ele participou da “2ª Conferência Diálogos com o Futuro”, realizado pelo Tribunal de Contas do Estado do Piauí, em Teresina.

Galípolo lembrou que, na reunião de maio, 4 diretores votaram por um corte de 0,5 ponto percentual na Selic, enquanto outros 5 optaram por uma redução de 0,25 ponto percentual. Disse que a política monetária tem impacto pelos 18 meses seguintes e que o efeito defasado da diferença estaria dentro da “margem de erro”, segundo o diretor.

“Não são divergências que tenham um impacto muito relevante. […] É um processo do aprendizado da autonomia. Nós estamos passando pela 1ª experiência, mas o que eu acho é que deve significar que tenha essa coisa de que não vai provocar grandes rupturas, porque existe um corpo técnico e uma institucionalidade de consumir os dados e os modelos que está estabelecido na instituição do Banco Central”, declarou.

INFLAÇÃO NO MUNDO

Galípolo disse que o mundo passou por um período de “excepcionalidade” bastante “intensa” com a pandemia de covid-19. Segundo ele, houve uma coordenação intensa para promover a flexibilização das condições dos pontos de vista fiscal e monetário.

“A preocupação maior por parte dos gestores da política econômica era: ‘Não vamos deixar a renda da economia despencar. Nós vamos dar suporte às pessoas para que possam ter acesso à renda e subsistir’”, declarou Galípolo.

De acordo com o diretor, os estímulos de programas de transferência e as taxas de juros baixas no período de isolamento social pressionaram, posteriormente, a demanda e a inflação.

ESTADOS UNIDOS

Galípolo citou que analistas do mercado financeiros postergaram a estimativa para o corte dos juros nos Estados Unidos em 2024. As projeções eram de um corte a partir de março, mas que o processo de desinflação não estava sendo feito no ritmo esperado. O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) não alterou as taxas de juros em 2024.

O diretor disse que os analistas do mercado financeiro agora esperam um soft landing (pouso suave), que viabilizaria uma desaceleração organizada da atividade econômica.

“[Esse cenário] Permitiria, como foi anunciado neste final de semana pelo presidente do Banco Central americano [Jerome Powell], iniciar um ciclo de cortes de juros”, disse Galípolo.

ATIVIDADE ECONÔMICA

O diretor declarou que as expectativas de inflação nos Estados Unidos estão “ancoradas”, ou convergindo para a meta. “Esse não me parece ser o cenário que a gente assiste no Brasil. Existe uma ausência de sincronia sobre esse momento que a economia brasileira vem passando”, disse.

Para ele, as expectativas para a inflação estão desancoradas. Ou seja, não estão convergindo para o centro da meta.

Galípolo citou dados que demonstram um fortalecimento da economia brasileira. “A gente está com o menor desemprego nos últimos 10 anos, a renda cresceu 12% frente a 2022 e bateu recorde, temos o crescimento do crédito por 6 meses consecutivos já passando 2 dígitos, a emissão de debêntures foi 2,5 vezes o volume que ocorreu em 2023”, disse.

O diretor do BC afirmou que as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) sobem e que há “grandes bancos” que falam em expansão de 3% em 2024.

O diretor declarou que o trabalho do Banco Central é fazer com que o crescimento da demanda não esteja sendo feito de forma desordenada com a oferta. O objetivo é evitar um processo inflacionário que vá corroer a renda ganha nos “últimos tempos”, segundo ele.

“Parece que a gente realmente é o chato. […] Por isso, o Banco Central assumiu uma posição mais conservadora. Interrompeu seu ciclo de cortes [na taxa básica] e ficou dependente de dados. Nós vamos agora consumir os dados a cada reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] para poder analisar como a economia está avançando e poder tomar as nossas decisões a partir disso”, disse Galípolo.

GABRIEL GALÍPOLO

Galípolo foi indicado para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. É o principal cotado para assumir a presidência do BC em 2025, com o fim do mandato do atual comandante, Roberto Campos Neto.

O PT (Partido dos Trabalhadores) criticou o diretor quando ele disse que a alta da taxa básica não está 100% descartada.

A Selic está em 10,5% ao ano. Em 31 de julho de 2024, o Banco Central manteve o juro base no mesmo patamar pela 2ª reunião consecutiva.

A autoridade monetária trabalha com a possibilidade de subir os juros em 2024 para controlar as expectativas dos agentes do mercado financeiro para a inflação. Nesta 2ª feira (19.ago.2024), o Boletim Focus mostrou que os analistas aumentaram para 4,25% a estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país. Está cada vez mais próximo do teto permitido pela meta, que é de 3% e tem tolerância até 4,5%.

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