Por Luciana Otoni
BRASÍLIA (Reuters) - O governo central (governo federal, Banco Central e Previdência Social) registrou déficit primário de 1,946 bilhão de reais em junho, o pior resultado para esses meses, influenciado pelo mau resultado da Previdência e que aumenta ainda mais a dificuldade para chegar à meta do ano.
No primeiro semestre de 2014, a economia feita para o pagamento de juros acumulou saldo positivo de 17,238 bilhões de reais, metade do valor visto em igual período do ano passado, informou nesta quarta-feira o Tesouro Nacional.
Um dos fatores para o rombo de junho foi a conta negativa da Previdência Social, que no mês passado ficou em 4,508 bilhões de reais, 16,2 por cento a mais do que o saldo negativo registrado no mês anterior.
Em junho, as receitas líquidas do governo central somaram 78,461 bilhões de reais, quase 15 por cento a mais frente a maio, somando no ano 491,202 bilhões de reais. Neste caso, o crescimento foi de 6,1 por cento sobre o primeiro semestre de 2013.
No mês passado, as receitas foram ajudadas pelo recebimento de 1,479 bilhão de reais em dividendos de estatais, muito acima dos 780 milhões de reais vistos em maio. Só o BNDES arcou com 932 milhões de reais em junho.
O Tesouro informou ainda que as despesas somaram 80,407 bilhões de reais em junho, com alta de 2 por cento em comparação ao mês anterior. Nos seis primeiros meses do ano, elas somaram 473,964 bilhões de reais, 10,6 por cento a mais do que igual período de 2013.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, atribuiu o resultado ruim aos feriados da Copa do Mundo e aos fracos indicadores da atividade.
"Tivemos resultado menos dinâmico decorrente de receita menos forte e da menor temperatura da economia", disse ele a jornalistas.
A economia debilitada levou o governo a recorrer às receitas extraordinárias para tentar fechar suas contas. Neste ano, a projeção é de que elas somarão 31,6 bilhões de reais.
Augustin disse que conta com a entrada em caixa ainda este ano de 8 bilhões de reais com o leilão da frequência de 700 MHz de quarta geração (4G) e que não está no cenário do governo o adiamento da disputa.
Também têm pesado neste ano as fortes desonerações tributárias que, no semestre passado, somaram cerca de 51 bilhões de reais, quase 45 por cento a mais do que em igual período de 2013.
ROMBO CONSOLIDADO
Diante desse cenário de maus resultados fiscais, especialistas reforçam a expectativa de que o setor público consolidado --governo central, Estados, municípios e estatais-- não cumpram a meta de superávit primário neste ano.
"Há duas conclusões: a primeira é o peso excessivo das desonerações mal planejadas do governo e levadas adiante este ano. O segundo é o desempenho da economia aquém do desejado. Esses dois elementos produziram trajetória muito negativa para a receita", o especialista em finanças públicas da consultoria Tendências, Felipe Salto, para quem o setor público deve divulgar déficit primário de 1,5 bilhão de reais em junho.
O BC divulga seu relatório de política fiscal nesta quinta-feira pela manhã. Pesquisa Reuters aponta que, pela mediana dos economistas consultados, o resultado será positivo em 200 milhões de reais.
A meta de superávit primário consolidado para este ano é de 99 bilhões de reais, equivalente a 1,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Em recente entrevista à Reuters, uma fonte da equipe econômica disse que se a arrecadação não melhorar o governo pode ter que buscar "novas fontes" para fechar as contas e cumprir a meta de superávit primário. Economistas de instituições financeiras consultadas pelo Banco Central na pesquisa Focus veem que o PIB do Brasil crescerá 0,90 por cento, muito aquém dos 2,5 por cento vistos em 2013.