Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta segunda-feira que o horizonte para a convergência da inflação à meta depende da natureza dos eventuais choques, que podem ser de oferta ou demanda, ressaltando que o horizonte deve ser flexível para incorporar esses impactos.
"O horizonte de convergência da inflação depende da natureza do choque; então, se um choque é oferta ou demanda, ou se é mais persistente, ou se é menos persistente, isso tem um impacto no 'timing' da convergência de inflação, então ele (horizonte) deve ser flexível para incorporar isso", disse Guillen em evento virtual do Bradesco BBI.
O diretor do BC fez seus comentários em resposta a pergunta sobre as vantagens e desvantagens de alterar o atual sistema de metas de inflação para incorporar um período de tempo que não seja mais vinculado ao ano-calendário, como tem defendido o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
"Se você leva como fixo, como literal, o ano-calendário como horizonte em que você quer conseguir a meta de inflação, isso obviamente... não seria ótimo. Em nossos comunicados temos enfatizado o que é o horizonte relevante, porque, no fim, o que você quer é o horizonte em que a política monetária age", defendeu Guillen.
"Acho que tem havido um pouco de confusão sobre qual é o horizonte de convergência da inflação, que são os 18 meses, ou o período de verificação, para checar se você está na meta ou não", acrescentou. Ele disse que o "período de verificação" não é o horizonte em que a política monetária age, mas sim o período de checagem para ver se a inflação está na meta ou não e se o BC deve ou não prestar contas à sociedade.
Quando desrespeita a meta de inflação, a autarquia deve escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando a inflação acima ou abaixo dos limites do intervalo de tolerância do objetivo.
"Eu, na verdade, gosto da ideia da carta aberta, é responsabilização... e a responsabilização e a autonomia do Banco Central andam de mãos dadas", disse Guillen.
Ele disse ainda que o BC vê pequena redução na margem das expectativas de inflação para 2023, mas destacou que as expectativas de longo prazo subiram como reflexo das discussões em torno da regra fiscal.
Guillen afirmou, ainda, que olhando para frente, a expectativa é de moderação do crescimento econômico diante da política monetária restritiva, mas defendeu que esse arrefecimento é necessário para conter a inflação. Segundo ele, o BC está "fazendo o que é necessário para levar a inflação à meta".
A taxa Selic está atualmente em 13,75%, nível elevado que tem sido criticado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O diretor disse que os riscos fiscais negativos do Brasil caíram, mas as expectativas de resultado primário não mudaram muito depois da aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados e reiterou que não há relação mecânica entre as novas regras e a política monetária.