Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A atividade econômica brasileira mostrou perda de força no final do ano passado e despencou 4% em 2020, mostraram dados do Banco Central nesta sexta-feira, menos do que o esperado pelo governo na esteira das paralisações e medidas de contenção contra a pandemia de Covid-19.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), apresentou contração de 4,05% no ano passado, em números observados, após expansão de 0,93% em 2019.
A projeção oficial do Ministério da Economia hoje é de uma queda de 4,5% em 2020.
Os números oficiais do PIB em 2020 serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 3 de março. A última vez que a economia brasileira apresentou queda foi em 2016, de 3,3%, depois de ter recuado 3,5% em 2015.
De acordo com série histórica do IBGE iniciada em 1962 e publicada no site do BC, o pior resultado do PIB brasileiro foi registrado em 1990, com uma queda de 4,35%.
O ano ainda terminou com perda de força uma vez que o índice apresentou alta de 0,64% em dezembro na comparação com o mês anterior, de crescimento de 0,68% em novembro e 0,77% em outubro.
O resultado marcou o oitavo mês seguido de alta desde que a atividade foi duramente atingida pela pandemia em abril, e ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,40%.
Com isso, o IBC-Br terminou o quarto trimestre do ano com crescimento de 3,14% sobre o terceiro, em número dessasonalizado, depois de ter avançado um recorde de 8,19% no período de julho a setembro.
Os dados do BC mostram que a atividade econômica atingiu o fundo do poço em abril por causa das medidas de contenção do coronavírus, e o tombo no segundo trimestre foi de 10,18% sobre os três meses anteriores, marcando o ápice da pandemia.
Desde então o índice veio mostrando recuperação em meio ao relaxamento das medidas de isolamento e o auxílio do governo vigente até o fim do ano passado, embora o ritmo de expansão tenha perdido de força.
Existem temores agora tanto de que novos lockdowns rigorosos sejam adotados, quanto em relação ao desemprego em níveis recordes no país.
Para 2021, o foco se volta para a vacinação da população, mas também para a situação fiscal do Brasil e para as esperadas reformas, bem como a possibilidade de novas medidas de ajuda pelo governo e a inflação, o que aumenta as preocupações em relação aos gastos públicos.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse na quinta-feira que, para que o governo possa conceder novas parcelas do auxílio emergencial aos mais vulneráveis afetados pela pandemia da Covid-19, é preciso que o Congresso aprove uma PEC de Orçamento de Guerra.
Dados recentes mostraram fraqueza da retomada econômica no fim do ano em meio à redução do auxílio emergencial e do aumento da inflação, levantando temores sobre a atividade no início do ano.
A produção da indústria brasileira registrou em dezembro o oitavo aumento seguido, mas ainda assim encerrou 2020 com a maior queda em quatro anos, de 4,5%.
As vendas no varejo por sua vez despencaram 1,2% em dezembro e retornarem ao nível pré-pandemia.
Enquanto isso, o setor de serviços vem apresentando as maiores dificuldades de recuperação. Altamente dependente do contato social e com maior peso no PIB, o setor recuou em dezembro e interrompeu seis meses de ganhos, terminando o ano de 2020 com a maior perda da série histórica e abaixo dos níveis pré-pandemia.
A pesquisa Focus mais recente do BC, realizada com uma centena de economistas, mostra que o mercado espera crescimento de 3,47% do PIB em 2021, depois de contração de 4,3% em 2020.