Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O aumento da gasolina e do diesel anunciado pela Petrobras (SA:PETR4) na noite de terça-feira deve ter um impacto de entre 0,12 e 0,2 ponto percentual na inflação de outubro, mas ficará circunscrito a este mês, sem influenciar as expectativas para 2016.
Para o analista de inflação da Tendências Consultoria, Marcio Milan, o anúncio do reajuste neste momento, e não no ano que vem, pode ser uma estratégia do governo para circunscrever o máximo possível a este ano o impacto da alta dos preços administrados.
Já é dado como certo que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará 2015 acima de 9 por cento. A meta do governo para este ano é de 4,5 por cento, com margem de dois pontos para mais ou para menos.
"Seria uma tentativa de antecipar os impactos (que poderiam ficar para o ano que vem), uma vez que o cenário de administrados pode ser ruim em 2016, pela energia", disse ele, que calcula impacto de 0,13 ponto percentual no IPCA de outubro.
A Petrobras divulgou no fim da terça-feira reajuste de 6 por cento nos preços da gasolina e de 4 por cento no diesel nas refinarias a partir desta quarta, num momento em que a forte alta do dólar frente ao real eleva custos de importação de combustíveis e aumenta o endividamento em moeda estrangeira da companhia.
O reajuste já era considerado nas conta de alguns especialistas de inflação, mas havia expectativas de que isso só acontecesse no próximo ano. Entretanto, uma fonte da Petrobras disse à Reuters que a empresa não descarta nova alta em 2015.
"O efeito do reajuste é de curto prazo e tira pressão do ano que vem. Essa alta elimina distorções, reduz potencial fonte de inflação para o ano que vem", concordou o economista-chefe do banco de investimentos Haitong, Jankiel Santos. Ele calcula impacto de 0,15 ponto percentual no IPCA de outubro.
Já o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, lembra que diante do cenário atual de ajustes de custos para toda a economia, os postos de combustíveis devem, depois do impacto inicial, analisar melhor a demanda nos próximos meses para decidir se continuam repassando custos ao consumidor.
De qualquer maneira, o reajuste não tende a alterar a política monetária ora em curso, dado que o impacto vai se restringir a este ano, disse Agostini, para quem o impacto na inflação deste mês será de 0,2 ponto percentual.
"Não muda nada na inflação para o ano que vem. E a partir de agora o Banco Central já está trabalhando com estratégia para ano que vem, e não muda por conta desse aumento", disse ele.
(Reportagem adicional de Alonso Soto, em Brasília)