Jesús Lozano.
Madri, 25 abr (EFE).- No próximo domingo, a Espanha realizará eleições parlamentares pela terceira vez em pouco mais de três anos, sem que haja perspectivas para o fim da instabilidade política que começou em 2015, já que o pleito está sendo considerado o mais disputado e imprevisível das últimas quatro décadas.
O grau de incerteza é tão alto que os partidos imploram aos indecisos, que são entre 30% e 40% dos eleitores, segundo as pesquisas, e aos abstencionistas. Quem, por fim, acabar governando "vai depender de um punhado de votos", disse à Agência Efe a professora de Comunicação Política da Universidade Complutense de Madri, María José Canel.
Para isso também contribui o sistema eleitoral espanhol, que prejudica os partidos menos votados nas províncias menores, aquelas onde são eleitos cinco ou menos deputados em cada caso.
O único fator que parece certo é que os socialistas ganharão as eleições com maioria simples, segundo todas as pesquisas, algo que, no entanto, não lhes garante a continuidade no governo. Outra certeza é de que o partido de extrema-direita Vox, fundado em 2013, conseguirá representação parlamentar pela primeira vez.
Em um Parlamento que, ao que tudo indica, ficará bastante fragmentado, a chave para um possível pacto de governo pode estar nos partidos minoritários, mas decisivos, como os separatistas catalães e os nacionalistas bascos, e até mesmo o Vox.
"Os níveis de fidelidade de voto nos partidos estão enfraquecendo. Por isso, temos tanta volatilidade (eleitoral)", explicou à Efe a professora de Ciência Política da Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED), Irene Delgado.
DO BIPARTIDARISMO AO MULTIPARTIDISMO.
Durante várias décadas, duas grandes legendas de centro-esquerda (Partido Socialista, PSOE) e centro-direita (Partido Popular, PP) se alternaram no governo da Espanha, com apoios esporádicos das minorias basca e catalã.
Esse bipartidarismo imperfeito terminou abruptamente nas eleições de dezembro de 2015, quando outros dois partidos nacionais entraram com força no Congresso dos Deputados: Podemos (esquerda) e Ciudadanos (direita).
Com isso, as negociações e as alianças parlamentares para governar se tornaram impossíveis e foram necessárias novas eleições em junho de 2016.
O PP ganhou essas duas convocações eleitorais, mas com resultados bastante distantes da maioria absoluta conseguida em 2011. Por fim, o líder conservador da época, Mariano Rajoy (PP), foi reeleito como chefe do governoo em 2016 graças a um acordo com o Ciudadanos e à abstenção de grande parte dos deputados socialistas.
A instabilidade, no entanto, voltou a ficar evidente em 1º de junho de 2018, quando o socialista Pedro Sánchez tirou Rajoy do poder ao propor e conseguir a aprovação de uma moção de censura parlamentar com apoio de Podemos, independentistas catalães e nacionalistas bascos.
CAMPANHA ÁSPERA, ACORDOS INCERTOS.
O Congresso espanhol rejeitou em fevereiro a proposta socialista para o orçamento estatal de 2019, e Sánchez teve que convocar eleições para 28 de abril, pois seu partido não tem força no parlamento, com apenas 84 das 350 cadeiras.
A campanha eleitoral, no entanto, começou muitos meses antes, com mensagens políticas mais emotivas do que racionais e trocas de acusações e ataques ásperos entre direita e esquerda, e também entre partidos do mesmo bloco, frequentemente por causa das tensões separatistas na região da Catalunha.
"Esta é, talvez, uma das campanhas (eleitorais) mais intensas que já tivemos por uma razão fundamental: a grande incerteza sobre os resultados", opinou a professora María José Canel.
Esta também é a primeira vez em que cinco partidos de abrangência nacional - PP, PSOE, Podemos, Ciudadanos e Vox - terão presença relevante no Parlamento, de acordo com todas as pesquisas.
Neste ambiente, segundo Canel, "o mais certo é que o PSOE terá mais votos que os demais e que o Vox entrará com representação suficiente para fragmentar a direita".
As pesquisas apontam que os socialistas obterão em torno de 30% dos votos e mais de 100 deputados. Portanto, a chave para a vitória está em quantas cadeiras a mais serão necessárias para se conseguir a maioria absoluta (176) ou se aproximar dela, e com quem serão formadas alianças.
Uma entre várias possibilidades seria um acordo entre PSOE e Podemos, mas os dois provavelmente precisariam do apoio dos separatistas catalães, que exigem a realização de um referendo de "autodeterminação", e não há certeza de que possa haver um acordo.
Outras incógnitas são o resultado do opositor PP, que até agora é o partido majoritário, com 134 cadeiras, mas disputa o voto da direita com Vox e Ciudadanos, e saber se esses três somariam deputados suficientes para governar em coalizão.
Segundo Canel, o resultado será determinado em 99 cadeiras, em referência aos distritos eleitorais menos populosos, onde são eleitos poucos deputados.
Nessas circunstâncias, a professora Irene Delgado reivindica prudência: "É um pouco precipitado falar em ingovernabilidade porque (...) podem existir diferentes fórmulas para que, de alguma maneira, se forme um governo que seja estável ao longo do tempo".
Também será preciso conhecer o número de deputados de cada força política para ver se tem lógica um governo de coalizão ou de um só partido com apoio parlamentar de outros.
"O panorama está excessivamente aberto para que nos arrisquemos a fazer previsões. Só podemos garantir é que não haverá uma bancada que, por si só, conseguirá a maioria absoluta", opinou Delgado.