Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial brasileira fechou 2014 com queda de 3,2 por cento, o pior resultado em cinco anos e com forte debilidade dos investimentos, apontando para um 2015 difícil em que o setor pode registrar nova contração sob a ameaça de racionamento de energia e água.
O cenário é mais complicado porque o setor definhou ainda mais no final do ano. Em dezembro, a produção recuou 2,8 por cento sobre o mês anterior, o mais fraco desempenho desde julho de 2013 (-3,6 por cento) e igualando a taxa de dezembro daquele ano, informou o Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE) nesta terça-feira.
Em novembro, a queda mensal havia sido de 1,1 por cento em número revisado de recuo de 0,7 por cento. Na comparação com um ano antes, a produção teve queda de 2,7 por cento em dezembro, o décimo resultado negativo seguido. O resultado de 2014 é o pior resultado desde a queda de 7,1 por cento vista em 2009, auge da crise internacional.
"A indústria terminou o ano num ritmo pior no fim do ano. Mais que a queda anual, o que se vê é uma indústria num ritmo menor do que se via", destacou o economista do IBGE André Luiz Macedo.
A expectativa de analistas em pesquisa da Reuters era de que a produção industrial recuasse 2,5 por cento em dezembro sobre o mês anterior e 2,4 por cento na comparação com um ano antes.[nL1N0VC101]
De acordo com o IBGE, a categoria com pior desempenho tanto no ano quanto em dezembro foi a de Bens de Capital, medida de investimento. Somente no mês passado ela registrou recuo de 23 por cento sobre novembro, acumulando queda de 9,6 por cento em 2014 pressionada principalmente pelo recuo na fabricação de equipamentos de transporte (-16,6 por cento).
"Eu invisto hoje para crescer amanhã, então esse número de bens de capital reflete expectativas e confiança do empresário baixas. Este ano vai depender muito do que acontecerá em relação às questões de infraestrutura", avaliou a economista do Banco ABC Brasil, Mariana Hauer.
Já os Bens de Consumo Duráveis tiveram queda de 2,2 por cento na produção em dezembro sobre o mês anterior, chegando à perda de 9,2 por cento no ano passado com destaque para a redução na fabricação de automóveis (-14,6 por cento) no período.
Dos 24 ramos pesquisados, 17 apresentaram queda na comparação mensal, sendo as principais influências negativas veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,8 por cento), máquinas e equipamentos (-8,2 por cento) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,5 por cento).
Já no ano o ramo com maior impacto negativo foi o de veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda de 16,8 por cento.
"O movimento de veículos automotores foi constante em 2014 e se deu com velocidade maior a partir da segunda metade do ano... com redução de exportação, evolução menor da demanda doméstica, crédito interno mais caro, dívidas maiores das famílias", completou Macedo, do IBGE.
INCERTEZAS
A indústria foi uma das maiores fontes de fraqueza da economia brasileira no ano passado, e continua enfrentando dificuldades neste início de 2015 diante do ambiente de inflação e juros elevados, que encarece os empréstimos, além da baixa confiança de empresários.
Pairam também sobre o setor os fantasmas de possíveis racionamentos de energia e de água, o que joga as projeções para este ano com nova contração, segundo especialistas.
"Tudo sugere que a indústria deve entrar este ano cortando a produção. E os riscos de racionamento de água e energia também devem manter a indústria cautelosa em termos de investimentos pelo menos no primeiro semestre", afirmou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, que prevê queda na produção industrial este ano de 1,5 por cento.
Mariana, do ABC Brasil, também leva em consideração os racionamentos em seu pior cenário e projeta contração de 2,1 por cento para a indústria este ano.
As estimativas de economistas na pesquisa Focus do Banco Central para o setor em 2015 vêm caindo e, por enquanto, é de crescimento de 0,5 por cento, com a economia como um todo estagnada.[nEMNF220RU]
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) aponta que o setor iniciou 2015 com alguma força ao crescer em janeiro ao ritmo mais forte em um ano, mas o Markit, que compila a pesquisa, ressaltou que a melhora foi apenas modesta e abaixo da média de longo prazo.[nL1N0V90RE]
A recuperação da confiança é um dos principais objetivos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que vem buscando colocar as contas públicas em ordem.
(Reportagem adicional de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)