SÃO PAULO (Reuters) - Uma extensa combinação de fatores impõe viés de baixa à já negativa projeção da Rio Bravo para a economia brasileira em 2022, ano que, questiona a casa, pode ser o primeiro da terceira década perdida.
Em relatório de cenário, os economistas da gestora apontam que 2022 "já começou", com uma discussão orçamentária mais difícil, pressões fiscais da classe política e a expectativa em torno das eleições presidenciais.
"Ainda é cedo para apontar um favorito, mas as pesquisas atuais mostram um cenário difícil para o futuro da economia brasileira, com uma disputa centrada no passado, em uma política econômica que já cometeu muitos erros, e no presente, com um governo que teve diversas dificuldades na negociação política e no desenho de propostas de reformas", disse a Rio Bravo em relatório.
"Há exemplos ruins em ambos os lados. A expectativa é que haja uma terceira opção mais razoável, que traga uma perspectiva de maior estabilidade econômica, positiva para os mercados e para o crescimento no longo prazo", completou.
O cenário doméstico "desafiador" no âmbito político-fiscal se junta ao exterior ainda pressionado por descompassos de oferta e demanda que devem perdurar, avaliaram os profissionais da gestora, que, assim, veem a inflação no Brasil "mais pressionada" e perto do teto da meta de 2022 (atualmente em 5%).
"Serão insuficientes os esforços do Banco Central para levar a inflação para o centro da meta no próximo ano", disseram.
Os economistas estimam que o Copom subirá a Selic novamente para dois dígitos, "garantindo, pelo menos, o cumprimento da meta de inflação de 2023". Mas as projeções tanto para a inflação quanto para o juro básico, ponderaram, têm viés para cima, e o cenário depende da situação fiscal e, principalmente, das sinalizações do novo governo.
"Essa perspectiva de risco fiscal elevado, incerteza política em ano eleitoral, inflação alta, juros em dois dígitos, gargalos na cadeia de suprimentos, desaceleração da economia global e a retirada de estímulos monetários em países desenvolvidos constituem uma combinação difícil para o crescimento do Brasil no ano que vem", disseram os economistas no texto, citando que a estimativa de retração de 0,2% do PIB em 2022 também está inclinada para baixo.
A recuperação do mercado de trabalho deve ser mais gradual, dificultando o crescimento via consumo, e os investimentos devem ser postergados, tendo em vista o juro mais elevado e a incerteza eleitoral, previram.
"Esse cenário pode melhorar com as eleições de outubro, mas as pesquisas indicam que, por ora, isso não parece algo fácil de vislumbrar", afirmou a gestora no relatório.
"Apesar de um crescimento próximo de 4,5% em 2021, o Brasil começará o próximo ano, tal como o novo governo em 2023, com grandes desafios: inflação e juros elevados, a necessidade de manutenção da sustentabilidade fiscal e a retomada da agenda para o crescimento de longo prazo", finalizaram.
(Por José de Castro)