SÃO PAULO (Reuters) - As expectativas dos consumidores brasileiros para os próximos meses registraram piora em maio sob o impacto da tragédia no Rio Grande do Sul, e a confiança caiu para o nível mais baixo em um ano, mostraram dados da Fundação Getúlio Vargas divulgados nesta sexta-feira.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV teve em maio queda de 4,0 pontos, para 89,2 pontos, após duas altas consecutivas. Foi o resultado mais fraco desde abril do ano passado (87,5 pontos) e a maior queda desde setembro de 2021 (6,5 pontos).
"O resultado mais que devolve as altas dos últimos dois meses... A forte queda nas expectativas foi, principalmente, influenciada pelo desastre ambiental no Rio Grande do Sul, com impactos nas condições de vida dos cidadãos e incertezas em relação à economia local”, disse Anna Carolina Gouveia, economista do FGV IBRE em comunicado.
De acordo com Gouveia, a confiança registrada na pesquisa, que levanta percepções de entrevistados nas principais capitais do país, foi fortemente influenciada pelo sentimento dos consumidores da capital gaúcha, Porto Alegre, apesar de ter havido queda também em outros locais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
"Esse resultado foi mais forte por conta de Porto Alegre, mas, de repente se a queda não fosse tão grande lá, ainda assim é possível que teria uma queda da confiança neste mês. Ela foi em maior magnitude por conta do desastre no Sul", disse a economista à Reuters.
Gouveia pontuou que os danos materiais causados no Rio Grande do Sul podem ter levado os consumidores gaúchos a temerem por sua perspectiva de emprego e renda, projetando que o nível de confiança atual na região pode se prolongar pelos próximos meses e até recuar mais.
No cenário nacional, a economista argumentou que o desastre climático no Estado pode fazer com que os consumidores esperem um aumento de gastos por parte do governo federal devido à necessidade de reconstruir o local, motivando preocupação em relação à inflação.
"Esse orçamento a mais vai precisar sair de algum lugar, ou seja, vai ser necessário fazer uma política fiscal expansionista neste momento. Isso pode vir a gerar alguma necessidade de se atentar melhor a questão da inflação", afirmou.
Em maio, o Índice de Expectativas (IE) recuou em 6,7 pontos, para 95,5 pontos, menor nível desde dezembro de 2022 (94,6 pontos). Já o Índice da Situação Atual (ISA) ficou estável em 80,6 pontos.
Entre os quesitos que compõem o ICC, o que mede o ímpeto de compras de bens duráveis deu a maior contribuição para a queda da confiança no mês ao recuar 8,3 pontos, para 78,8 pontos, atingindo o menor nível desde outubro de 2022 (78,1 pontos).
Também foi observada queda nos indicadores que medem as perspectivas para as finanças futuras das famílias e para a situação futura da economia, que caíram 6,1 e 4,7 pontos, para 100,1 e 108,3 pontos, respectivamente, de acordo com a FGV.
Gouveia também mencionou como possíveis razões para a queda da confiança e de expectativas o nível de endividamento dos consumidores e a perspectiva de término ou maior desaceleração no ritmo de cortes da taxa Selic feito pelo Banco Central, o que sinaliza que a inflação ainda precisa ser controlada.
No entanto, ela afirmou que "é cedo" para dizer se já houve a percepção total dessas questões, enfatizando que os números divulgados nesta sexta-feira se devem principalmente a questões relacionadas à tragédia no Rio Grande do Sul.
As enchentes que têm devastado o Rio Grande do Sul nas últimas semanas deixaram pelo menos 163 mortos e ainda há cerca de 64 pessoas desaparecidas, de acordo com dados da Defesa Civil gaúcha. Este é o pior desastre climático da história do Estado e já afetou mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios gaúchos.
(Por Camila Moreira e Fernando Cardoso)