Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira surpreendeu e desacelerou para o menor patamar em quatro anos em julho, diante do alívio nos preços de hotéis e passagens aéreas com o fim da Copa do Mundo, e voltou para o limite do teto da meta em 12 meses.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,01 por cento julho -- variação mais baixa desde julho de 2010-- ante 0,40 por cento em junho. No acumulado de 12 meses, o IPCA recuou para 6,50 por cento em julho, ante 6,52 por cento mo mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
Os números vieram abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters, de alta mensal de 0,10 por cento em julho e de 6,60 por cento no acumulado em 12 meses.
Além do recuo da inflação, o índice de difusão dos aumentos de preços do IPCA recuou para 59,98 por cento, ante 61,39 por cento no mês anterior, segundo cálculos do banco Fator.
O governo comemorou o resultado. "A inflação vem caindo por quatro meses seguidos indicando comportamento mais benigno nos próximos meses e isso é resultado da política econômica colocada em prática pelo governo desde meados do ano passado", afirmou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland.
A inflação, que tem permanecido ao redor do teto da meta anual do governo, de 4,5 por cento, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos, é um ponto vulnerável na campanha para a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
FIM DA COPA
Os grupos que mais contribuíram para a desaceleração da inflação em julho foram Transportes e Despesas Pessoais, com destaque respectivamente para passagens aéreas e hotéis, cujos preços arrefeceram com força com o fim da Copa do Mundo.
"Dois grupos puxaram a queda e neles são itens de retorno da Copa do Mundo como passagens e hotéis. A alta para a Copa foi maior e o setor ainda está devendo ao consumidor nessa devolução", afirmou a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos.
Transportes apresentou deflação de 0,98 por cento em julho após alta de 0,37 por cento no mês anterior, com impacto de -0,18 ponto percentual no índice. Passagens aéreas, com queda de 26,86 por cento, foi o principal impacto negativo, com -0,14 ponto percentual.
Já Despesas Pessoais desacelerou a alta a 0,12 por cento no mês passado contra 1,57 por cento em junho, com os preços de hotéis caindo 7,65 por cento após alta de 25,33 por cento em junho.
Na ponta oposta, o grupo Habitação foi destaque de alta, ao subir 1,2 por cento em julho contra 0,55 por cento no mês anterior. Habitação gerou um impacto de alta de 0,17 ponto percentual no IPCA do mês.
ENERGIA
A alta do grupo Habitação foi puxada por energia elétrica, com alta dos preços acelerou para 4,52 por cento em julho ante 0,13 por cento em junho, gerando o maior impacto individual no IPCA do mês, de 0,12 ponto percentual.
Os preços administrados vêm sendo uma das principais preocupações em relação a inflação, já que há expectativa de maiores aumentos no próximo ano nos preços de energia elétrica e gasolina. Em julho, os preços administrados subiram 0,39 por cento, ante 0,25 por cento no mês anterior.
Por outro lado, Serviços teve deflação em julho de 0,06 por cento, após alta de 1,10 por cento no mês anterior, variando abaixo do IPCA cheio pela primeira vez desde o início da divulgação da série de serviços em janeiro de 2012.
"A atividade está mais fraca e de certa forma o repasse para os preços livres pode não ser tão forte. Mas deve haver mais repasse para os administrados com mais reajustes de energia elétrica. A inflação mensal vai voltar a subir e a anual continuará alta", avaliou o economista do Banco Tokyo-Mitsubishi Mauricio Nakahodo.
O elevado nível da inflação recentemente, aliado ao baixo crescimento econômico, vem diminuindo a confiança de consumidores e empresários. Na pesquisa Focus do BC, agentes econômicos projetam expansão do Produto Interno Bruto este ano de apenas 0,86 por cento, enquanto veem o IPCA a 6,39 por cento.
Nesta semana, o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que as atuais pressões inflacionárias tendem a arrefecer ou até mesmo a desaparecer, defendendo que a inflação está sob controle e que fechará neste ano dentro dos limites da meta.
Para tentar segurar a inflação, o BC elevou a Selic para o atual patamar de 11 por cento, mas o resultado de julho do IPCA não deve afetar a política monetária, uma vez que o BC tem sinalizado que manterá os juros por algum tempo. E diante da resistência da inflação, o mercado já fala em retomada do ciclo de aperto monetário no início de 2015.
"Quem for eleito vai ter um trabalho muito árduo para controlar a inflação, principalmente com energia e combustíveis. Uma hora vai ter que fazer ajustes. Então no início de 2015 devemos observar uma alta nos juros tendo em vista controlar a inflação", afirmou o economista da Austin Rating Wellington Ramos.
(Reportagem adicional de Felipe Pontes no Rio de Janeiro)