Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O aumento nas contas da energia elétrica levou a inflação no Brasil a acelerar em agosto, ainda que com menos intensidade do que o esperado, deixando a taxa em 12 meses acima de 4% de novo uma semana antes da próxima reunião de política monetária do Banco Central.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,23% em agosto, depois de alta de 0,12% em julho, resultado um pouco abaixo da expectativa apontada em pesquisa da Reuters de avanço de 0,28%.
Os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o índice passou a acumular agora em 12 meses alta de 4,61%, de 3,99% em julho, contra projeção de 4,67%.
Assim o índice volta a ficar acima de 4% pela primeira vez desde abril e supera o centro da meta para a inflação este ano, que é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
Esse movimento indica que a inflação já atingiu seu ponto mais baixo do ano, como era esperado, e pode continuar subindo à frente uma vez que ainda sairá do cálculo em 12 meses a deflação vista em setembro de 2022, em um cenário de mercado de trabalho ainda aquecido.
O maior impacto individual no resultado do IPCA de agosto veio do aumento de 4,59% da energia elétrica, o que levou o grupo Habitação a apresentar alta de 1,11%. Isso devido ao fim da incorporação do chamado bônus de Itaipu, um saldo positivo na conta de comercialização de energia elétrica incorporado nas contas de luz dos consumidores em julho.
Além de Habitação, outros cinco dos nove grupos pesquisados apresentaram alta em agosto, com destaque para Saúde e cuidados pessoais (0,58%) e Transportes (0,34%).
Neste último, a maior influência partiu da alta de 1,24% dos preços da gasolina, com a expectativa de que o reajuste grande de combustíveis anunciados em meados de agosto pela Petrobras (BVMF:PETR4) impacte com mais força o IPCA de setembro. Pesou ainda no grupo Transportes um avanço de 1,71% nos preços de automóveis novos.
ALIMENTOS E SERVIÇOS
Por outro lado, o grupo Alimentação e bebidas, que tem forte peso no bolso dos consumidores, mostrou queda pelo terceiro mês consecutivo, de 0,85%, em grande parte devido ao recuo de 1,26% nos preços da alimentação no domicílio.
A composição do IPCA destaca, segundo o gerente da pesquisa no IBGE, André Almeida, que a pressão sobre a inflação vem mais dos preços monitorados, e não da demanda.
“O maior impacto do IPCA vem de monitorados, mesmo com mais gente trabalhando e melhora no mercado de trabalho”, disse Almeida.
A reaceleração da inflação ocorre após o BC ter dado início a um ciclo de corte de juros ao reduzir a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual no início de agosto, a 13,25%, prevendo novas reduções na mesma magnitude. Será com esses dados em mãos que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se encontrará na próxima semana.
A inflação de serviços, acompanhada de perto pelo BC, mostrou um cenário mais benigno ao desacelerar a alta a 0,08% em agosto, depois de subir 0,25% em julho, acumulando em 12 meses avanço de 5,43%.
Já o índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, aumentou com força, a 53%, de 46% em julho.
"Embora a difusão tenha aumentado, ainda está em linha com uma inflação em torno de 4% no médio prazo. No geral, o resultado continua a mostrar que a inflação subjacente está melhorando com uma dinâmica melhor na margem", destacou o Santander (BVMF:SANB11) em nota.
O BC já avaliou ser pouco provável intensificar os cortes na Selic à frente, com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e alguns diretores tendo destacado que a barra é alta para fazer algo diferente de cortes de 0,5 ponto percentual.
"O IPCA de agosto não parece mudar o jogo, o ritmo de cortes deve seguir em 0,50 (ponto percentual), precisamos de mais informações para acelerar", disse Leonardo Costa, economista da ASA Investments.