Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os preços ao consumidor voltaram subir no Brasil em junho, pressionados por combustíveis diante do aumento nas bombas e pelos alimentos, em meio ainda a medidas de isolamento para contenção do coronavírus pelo país.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo(IPCA) subiu em junho 0,26%, após queda de 0,38% em maio --a deflação mais intensa em 22 anos.
Os dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que, em 12 meses, o IPCA acumulou alta de 2,13%, contra 1,88% no mês anterior, mas ainda abaixo do piso do intervalo para a meta de inflação neste ano --de 4%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de alta de 0,29% na variação mensal, acumulando em 12 meses acréscimo de 2,16%.
A demanda no Brasil vem sido afetada pelas medidas de contenção à pandemia do Covid-19, tanto pelo isolamento que tem mantido pessoas em casa quanto pelas perdas de emprego e renda, mesmo com o início do afrouxamento das medidas de isolamento.
"Os movimentos são diferentes quanto à flexibilização no país, mas é cedo para falar em um aumento da demanda agregada", disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, destacando que o recuo dos preços dos serviços em junho foi de 0,26%, contra queda de 0,45% em maio.
No mês de junho, o destaque ficou para a alta dos preços do combustíveis, após reduções nos últimos quatro meses, sendo o maior impacto individual exercido pelo avanço de 3,24% da gasolina.
Etanol (5,74%), gás veicular (1,01%) e óleo diesel (0,04%) também registraram alta, levando os preços dos combustíveis a subir 3,37%, após queda 4,56% em maio.
Com isso, o grupo Transportes passou a apresentar alta de 0,31% em junho, depois de ter registrado deflação de 1,90% em maio.
"Houve uma alta nos preços dos combustíveis que chegou às bombas e impactou o consumidor final. Isso alterou o grupo de Transportes e influenciou no IPCA", explicou Kislanov.
Já o grupo Alimentação e bebidas acelerou a alta a 0,38% em junho, de 0,24% em maio, diante da demanda elevada durante a pandemia de Covid-19.
O principal peso veio dos alimentos para consumo no domicílio, cujos preços passaram a avançar 0,45% no mês, em meio ao aumento dos preços das carnes (1,19%) e do leite longa vida (2,33%).
"As medidas de isolamento social, que fizeram as pessoas cozinharem mais em casa, por exemplo, ainda estão em vigor em boa parte do país. Isso gera um efeito de demanda e mantém os preços em patamar mais elevado", disse Kislanov.
A alimentação fora do domicílio também pressionou ao subir 0,22% em junho, de 0,04% em maio, com destaque para a alta e 1,01% do lanche, segundo o IBGE.
Também se destacou o aumento de 1,30% em junho dos Artigos de residência, maior variação positiva no índice do mês, sob pressão de eletrodomésticos e equipamentos (2,92%) e artigos de tv, som e informática (3,80%), resultado influenciado pelo dólar alto, segundo o IBGE.
O Banco Central cortou a taxa básica de juros Selic em 0,75 ponto, à nova mínima histórica de 2,25% ao ano, ao mesmo tempo que deixou aberta a porta para nova redução, condicionada à avaliação do cenário.
De acordo com o presidente da autoridade monetária, o BC precisa entender o impacto do crescimento na inflação para avaliar se ainda há espaço para corte residual nos juros básico.
Para o BC, a economia deve sofrer em 2020 retração de 6,4%, refletindo o profundo impacto da crise com o coronavírus na atividade
A pesquisa Focus mais recente realizada pelo BC com economistas mostra que a expectativa é de que a inflação termine este ano em 1,63% e que a economia encolha 6,5%.