Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação oficial do Brasil acelerou com força em setembro e superou 10% em 12 meses pela primeira vez em cinco anos e meio, em um momento de apreensão com o avanço dos preços no país e intenso movimento de aperto monetário.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou a subir em setembro 1,16%, de 0,87% em agosto, embora abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de um avanço de 1,25% .
O dado divulgado nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi o mais elevado para o mês desde 1994 e levou a taxa acumulada em 12 meses até setembro a 10,25%, de 9,68% em agosto.
A leitura do IPCA em 12 meses também ficou abaixo da expectativa de alta de 10,33%, mas marca a primeira vez em dois dígitos desde fevereiro de 2016 (10,36%).
Se a inflação permanecer nesse curso, terminará o ano muito acima do teto da meta oficial para este ano -- inflação de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Por trás da inflação alta, há fatores como câmbio e crise hídrica, além de custos de insumos, que já levaram o Banco Central a elevar a taxa básica de juros aos atuais 6,25%.
“A demanda ainda está em recuperação, mas aos poucos com a retomada da economia. E tem a pressão de custos por conta da energia, gasolina e dólar", explicou o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.
“O dólar mais alto estimula exportações e diminui a oferta interna. O dólar tem pesado no IPCA", completou.
ENERGIA E COMBUSTÍVEIS
Em setembro, o vilão continuou sendo a energia elétrica, que subiu 6,47% no mês em que passou a valer a bandeira tarifária “escassez hídrica” -- no mês anterior vigorou a bandeira vermelha patamar 2. A energia elétrica já acumula em 12 meses alta de 28,82%.
Isso levou os custos de Habitação a aumentarem 2,56%, forte aceleração ante a alta de 0,68% registrada em agosto.
Também se destaca o avanço do preço do gás de botijão de 3,91%, na 16ª alta consecutiva que leva a um aumento acumulado em 12 meses de 34,67%.
Os preços de Transportes, por sua vez, subiram 1,82%, enquanto os de Alimentação e Bebidas tiveram alta de 1,02%. Juntos, esses três grupos contribuíram com cerca de 86% do resultado do IPCA de setembro.
Mais uma vez os combustíveis pesaram no grupo Transporte ao subirem 2,43%, com altas de 2,32% da gasolina e de 3,79% do etanol. Na Alimentação, por outro lado, as carnes recuaram 0,21% após sete meses consecutivos de alta, mas frutas avançaram 5,39%, o café moído subiu 5,50% e o frango inteiro avançou 4,50%.
“Essa queda das carnes pode estar relacionada à redução das exportações para a China. No início do mês, houve casos do mal da vaca louca na produção brasileira. Com a suspensão das exportações, aumentou a oferta de carne no mercado interno, o que pode ter reduzido o preço”, explicou Kislanov.
Já a inflação de serviços ampliou a alta a 0,64% em setembro, de 0,39% em agosto, conforme acelera a reabertura da economia afetada pela pandemia de coronavírus.
"Embora (o número) tenha sido abaixo do projetado, não traz elementes tao confortáveis assim. Aquele cenário que a gente traçava no começo do ano de que o IPCA seria forte no meio e depois ia arrefecendo ao longo do segundo semestre não está se concretizando", disse Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos.
Após ter aberto o ano com a Selic na mínima histórica de 2%, o Banco Central já elevou a taxa básica de juros em 4,25 pontos de março até agora, ao patamar atual de 6,25% ao ano, indicando mais recentemente que irá avançar em "território contracionista".
O BC descreve a inflação como "intensa e disseminada", e alerta que o ciclo de elevação da Selic para domá-la vai afetar a atividade no ano que vem. As contas do BC são de IPCA em 8,5% neste ano.
O mercado, de acordo com a mais recente pesquisa Focus do BC, calcula a inflação ao final deste ano em 8,51% e a 4,14% em 2022.