Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A prévia da inflação oficial brasileira desacelerou a 1,24 por cento em março, mas em 12 meses chegou ao nível mais alto em quase 10 anos, no momento em que o governo da presidente Dilma Rousseff vem sendo alvo de fortes protestos e rejeição.
Com o resultado, após alta mensal de 1,33 por cento em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) acumulou alta de 7,90 por cento em 12 meses, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
Trata-se do nível mais alto desde maio de 2005 (8,19 por cento), após o indicador ter atingido 7,36 por cento em 12 meses em fevereiro, permanecendo bem acima do teto da meta do governo-- de 4,5 por cento com margem de 2 pontos percentuais.
Os resultados ficaram praticamente em linha com a expectativa do mercado. Mediana das projeções em pesquisa da Reuters apontava alta de 1,21 por cento na comparação mensal e de 7,88 por cento em 12 meses.
Segundo o IBGE, os aumentos de energia elétrica, combustíveis e alimentos foram os principais responsáveis pelo resultado mensal de março, uma vez que juntos esses itens responderam por 77,42 por cento do índice.
O maior impacto individual em março foi exercido por energia elétrica: com alta de 10,91 por cento, exerceu peso de 0,35 ponto percentual no IPCA-15.
Isso levou o grupo Habitação a registrar a maior variação em março ao acelerar a alta a 2,78 por cento em março, ante 2,17 por cento no mês anterior.
Depois de o governo adotar o uso da bandeira tarifária, repassando ao consumidor os custos mais altos de geração por conta da falta de chuvas, em março entraram em vigor revisões tarifárias extraordinárias.
A inflação vem se mantendo em níveis elevados sob o peso também da gasolina, diante do aumento das alíquotas de PIS/Co fins. No IPCA-15 de março, os combustíveis subiram 6,25 por cento e tiveram impacto de 0,31 ponto, sendo 0,26 ponto somente da gasolina após avanço dos preços de 6,68 por cento.
Já o grupo Alimentação e Bebidas teve alta de 1,22 por cento neste mês, contra avanço de 0,85 por cento em fevereiro.
Os preços administrados vêm sendo os principais vilões da inflação neste ano, com os economistas na pesquisa Focos do Banco Central projetando alta de 12 por cento desse grupo neste ano.
Mas o dólar também deve pesar, tendo ultrapassado recentemente o patamar de 3 reais. No Focos, a expectativa para o PICA ao fim deste ano vem piorando a cada semana e já está perto de 8 por cento.
O próprio Banco Central, que neste mês elevou a taxa básica de juros para 12,75 por cento ao ano, não vê mais a inflação iniciando trajetória de queda em 2015 devido ao reajuste de administrados e desvalorização do câmbio.