Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A pressão de energia elétrica levou a prévia da inflação oficial do Brasil a disparar para o nível mais alto para um mês de agosto em quase duas décadas, em momento de forte preocupação com a alta dos preços e de intensificação do aperto monetário.
Com a alta de 0,89% em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) acelerou com força sobre a taxa de 0,72% de julho, batendo o nível mais elevado para um mês de agosto desde 2002 (+1,00%).
Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda que em 12 meses o IPCA-15 passou a subir 9,30%, contra 8,59% no mês anterior.
O resultado assim marca a taxa mais elevada nessa base de comparação desde maio de 2016, quando foi de 9,62%, e dispara bem acima do teto da meta para este ano -- de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de avanços do IPCA-15 de 0,82% e 9,24% respectivamente nas comparações mensal e anual.
A energia elétrica foi o principal responsável pelo resultado do índice de agosto, com alta de 5,0%, em meio à crise hídrica e à bandeira vermelha patamar 2, além do reajuste de 52% no valor adicional da bandeira a partir de 1º de julho.
Com isso, o grupo Habitação registrou a maior variação em agosto, de 1,97%, embora a alta tenha desacelerado sobre a taxa de 2,14% de julho.
A segunda maior contribuição para o dado de agosto veio dos Transportes, cujos custos aumentaram 1,11% com a aceleração dos preços dos combustíveis a 2,02%, de 0,38% em julho. Somente a gasolina avançou 2,05%, acumulando em 12 meses uma alta de 39,52%.
Alimentação e bebidas também ficou mais cara, com a inflação desse grupo chegando a 1,02% em agosto de alta de 0,49% no mês anterior, com disparada dos preços de tomate (16,06%), frango em pedaços (4,48%), frutas (2,07%) e leite longa vida (2,07%)
A única queda registrada foi em Saúde e cuidados pessoais, de 0,29%, devido principalmente à deflação nos preços dos itens de higiene pessoal (-0,67%), produtos farmacêuticos (-0,48%) e plano de saúde (-0,11%).
Com o país sob intensa pressão inflacionária, o Banco Central intensificou o aperto monetário e elevou a Selic a 5,25%, prevendo novo aumento de 1 ponto percentual em setembro.
Segundo o BC, apertos seguidos e sem interrupção nos juros básicos são necessários para levar a taxa Selic para patamar acima do neutro, para que assim as projeções de inflação fiquem na meta.
A pesquisa Focus realizada semanalmente pelo BC mostra que o mercado já vê a inflação terminando este ano a 7,11% no acumulado em 12 meses, depois de 20 altas seguidas na estimativa.