Investing.com – Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), inicia 2025 com o desafio de defender a independência do banco central dos EUA, enquanto evita atritos diretos com o presidente eleito Donald Trump.
O principal objetivo de Powell será ajustar a política monetária sem dar a impressão de que o Fed está reagindo antecipadamente às possíveis pressões inflacionárias decorrentes das políticas do novo governo.
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Desde a vitória de Trump em novembro, Powell destacou que o Fed não faz suposições sobre como as políticas futuras podem influenciar as taxas de juros. “Nós não adivinhamos, não especulamos e não assumimos,” afirmou em 7 de novembro.
Ainda assim, as projeções mais recentes do Fed apontam para uma abordagem mais conservadora. Após o corte de 0,25 ponto percentual na semana passada—totalizando 1 ponto percentual desde setembro—, o Fed revisou suas expectativas para 2025, prevendo apenas dois cortes adicionais, ante quatro projetados anteriormente.
A inflação agora é estimada em 2,5% para 2025, acima da previsão anterior de 2,2%. Além disso, 15 dos 19 membros do Fed avaliam que há riscos de a inflação superar essa projeção.
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As políticas econômicas de Trump, incluindo tarifas comerciais e controle mais rígido da imigração, podem impactar os preços e o mercado de trabalho. Tarifas podem elevar custos, enquanto medidas para restringir a entrada de imigrantes podem reduzir a oferta de trabalhadores, pressionando os salários para cima. Powell, no entanto, atribuiu as revisões nas estimativas inflacionárias aos dados recentes, minimizando a influência da eleição de Trump.
Apesar disso, Powell orientou os membros do Fed a adotar um tom cuidadoso em declarações públicas para evitar a percepção de viés político, reforçando o compromisso do banco central com decisões baseadas em evidências.
Powell destacou as diferenças entre o ambiente atual e o do primeiro mandato de Trump. Naquela época, as guerras comerciais levaram a cortes de juros em um cenário de baixa inflação. Hoje, a inflação elevada torna a tarefa do Fed mais desafiadora. Em uma coletiva de imprensa no dia 18 de dezembro, Powell explicou que o Fed está analisando cuidadosamente como tarifas podem afetar os preços e a economia, preparando-se para uma resposta mais precisa quando as políticas forem implementadas.
Conselheiros de Trump têm opiniões divergentes sobre os efeitos das tarifas. Scott Bessent, indicado ao cargo de secretário do Tesouro, argumentou que tarifas não são inflacionárias porque, se um bem fica mais caro, consumidores reduzem gastos em outros. Ele afirmou:
“Se o preço de algo sobe, a menos que você dê mais dinheiro às pessoas, elas terão menos para gastar em outra coisa, então não há inflação.”
Com o mercado de trabalho próximo ao pleno emprego, economistas como Ray Farris acreditam que empresas têm maior capacidade de repassar custos ao consumidor. Ele também destacou que aumentos graduais nos preços podem levar o público a perceber a inflação como mais persistente, influenciando expectativas.
Próximos passos do Fed
O Goldman Sachs (NYSE:GS) projeta que o Federal Reserve realizará o próximo corte de 25 pontos-base (pb) na taxa de juros em março de 2025, seguido por reduções adicionais de igual magnitude em junho e setembro.
“Acreditamos que o Fed fará o próximo corte de 25 pb em março, seguido de mais dois cortes de 25 pb em junho e setembro, levando a taxa terminal para uma faixa de 3,5%-3,75%,” afirmou o banco em nota divulgada na sexta-feira.
Além disso, o Goldman prevê que o Fed desacelerará o ritmo de redução de seu balanço patrimonial já em janeiro de 2025, encerrando completamente esse processo até o segundo trimestre.
O banco também prevê um crescimento do PIB real dos EUA acima do consenso, de 2,4% em 2025, impulsionado por aumentos reais na renda das famílias e condições financeiras mais favoráveis.
A inflação medida pelo índice de despesas de consumo pessoal (PCE) deverá desacelerar para 2,4% até o final de 2025, ajudada pela queda na inflação habitacional e pela diminuição nas pressões salariais. Apesar disso, tarifas podem gerar um impacto moderado nos preços.
O banco projeta uma queda gradual na taxa de desemprego, que deve atingir 4,0% até o final de 2025. Essa previsão reflete a força contínua do mercado de trabalho, mesmo em um cenário de ajustes econômicos.
No cenário global, o banco espera um crescimento de 2,7% em 2025, impulsionado por melhores condições financeiras e o aumento da renda disponível. Contudo, alerta para riscos associados a mudanças na política dos EUA, como tarifas mais altas sobre produtos chineses e automóveis, redução na imigração e novos cortes de impostos promovidos pela administração Trump.
Na zona do euro, o Goldman projeta que o Banco Central Europeu (BCE) continuará reduzindo juros até meados de 2025. Já na China, o crescimento do PIB deve desacelerar para 4,5%, reflexo de desafios econômicos domésticos.