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José Francisco Gonçalves: Copom exagerou na dose e PIB deve ser penalizado em 2024

Publicado 27.12.2023, 12:53
© Jose Francisco de Lima Gonçalves
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Investing.com – Apesar de avanços no processo de desinflação, a economia brasileira tende a arrefecer no próximo ano. E isso acontece, segundo José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, porque o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central exagerou na dose. “Se o consumo das famílias está cedendo, como os dados indicam, e se as exportações não crescerem, a gente já está em recessão”.

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Em entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil, Gonçalves afirma que o Copom deveria rever os próximos passos e acelerar o ritmo de cortes na taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em março ou abril.

“Eu sei que BC tem que pecar por excesso, que é a convenção mundial, mas a evolução da economia global e da economia local contemplavam um início do ciclo de queda mais cedo”.

Ainda que o governo tenha focado em avançar em pautas fiscais neste ano, o economista avalia como necessário voltar as atenções também para temas relacionados ao meio ambiente e política industrial, que, em sua visão, são impulsionadores do investimento no longo prazo.

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Investing.com – Como avalia a política monetária deste ano, acredita que seguiu corretamente no ritmo de cortes? Há espaço para acelerar o ritmo no ano que vem?

José Francisco de Lima Gonçalves – Mesmo que seja fácil falar depois que já aconteceu, eu ainda acho que o Copom exagerou um pouco tanto na subida quanto na permanência, no tempo em que a Selic ficou sem cair. Eu sei que BC tem que pecar por excesso, que é a convenção mundial, mas a evolução da economia global e da economia local contemplavam um início do ciclo de queda mais cedo.

Sobre o ritmo, considerando que, para a situação fiscal ficar mais clara, teremos que chegar em março, abril do ano que vem, data na qual a avaliação das receitas e da despesa no primeiro bimestre vai incorporar tanto as receitas tradicionais quanto eventuais receitas novas e ainda que serão definidas esse ano, que eu acho que vai acontecer e acho que vai ser relevante, então, na verdade, para ter mais tranquilidade em relação às expectativas de inflação, menos para 2024, mais para 2025, tem sentido manter esse ritmo que eles sancionaram até chegar lá.

A simples definição da meta já é um refresco, acho que as expectativas de inflação se acomodam mais e saem deste nível incômodo de 3,5% para 2025. Então eu acho que é para onde a gente está caminhando. Existe um viés, portanto, de aceleração.

As informações mais recentes são muito feias. A atividade no mês de outubro é uma coisa lamentável, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como varejo, serviços e indústria, mostram um mês de queda em outubro no IBC-BR do BC e entra no trimestre do final do ano com risco de uma nova queda do PIB. Eu fiquei muito pessimista com esses dados.

Inv.com – Quais são os principais desafios do próximo ano, após o processo de desinflação?

Gonçalves – É a atividade. Esses sinais de serviço, sobretudo, caíram de novo, no terceiro mês. São sinais muito ruins, considerando que até outro dia era a única coisa que andava no país, e que explica, no PIB do terceiro trimestre, a performance de consumo das famílias. Então, naquele PIB, se você tirar o avanço surpreendente do consumo das famílias e tirar as exportações, que seguraram a atividade, já estaríamos em recessão. Ou seja, se o consumo das famílias está cedendo, como esses dados indicam, e se as exportações não crescerem, a gente já está em recessão.

Investimento não vai ter. Se tiver investimento, é PPP (parceria público-privada) nos municípios, principalmente por conta da eleição. Tem um monte de projeto, talvez isso ajude a segurar um pouco o emprego e o investimento. Do outro lado, os setores públicos estadual e federal não vão investir. Do gasto público corrente não dá para esperar uma alta relevante. Com a meta qualquer que ela seja, o nível de despesa é o compatível com a arrecadação anterior. E a gente sabe que é que o que cabe de investimento é muito pouco.

Se o investimento não acelera, a exportação não acelera, a chance que tem ano que vem é petróleo continuar puxando a pauta de exportação. Mas vamos ver. Atualmente, ainda tem efeito do agro e dos minérios, do ferro, sobretudo, depender só do petróleo é pouco.

O consumo eu acho que tem que ser olhado com mais carinho porque a taxa de juro vai cair. Mas a parte de crédito, que é recursos livres, tem mais a ver com o consumo das famílias. O crédito parado é um sinal muito ruim, então você precisaria olhar para o crédito. Além da redução dos juros, não sei o que que o BC ou o Conselho Monetário Nacional (CMN) deveriam pensar em relação a isso, porque o que ajudou o consumo esse ano foi também o nível de transferências do Bolsa Família, seguro-desemprego etc., que foi muito maior do que no ano passado. E, no ano que vem, não vai ser maior. Então o desafio é conseguir baixar os juros de uma maneira sustentável, que eu acho que é acelerar o ritmo a partir de março, abril, e olhar para os demais aspectos de crédito com atenção.

Inv.com – Quais são os principais riscos externos neste momento para a atividade econômica brasileira? Concorda com o que foi apresentado na última comunicação do Copom?

Gonçalves – O Copom foi muito leve, no comentário sobre a melhora lá fora. Aliás, lá fora e aqui dentro também. Setembro e outubro, principalmente outubro, foi um mês muito complicado, os juros lá fora, o dólar subindo, o mundo todo sofrendo com isso. E, aparentemente, aquele momento passou. O (Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos), falou que não vão esperar a inflação ir para a meta para começar a reduzir. Essa frase, para mim, é, vamos dizer, eloquente. Eu acho que assim que a inflação bater 2,60%, por aí, eles vão começar a reduzir juros e isso é bom para o mundo inteiro. Essa é a parte boa. Tem o risco de reversão disso, mas muito baixo, porque a atividade nos Estados Unidos também está praticamente de lado a estimativa.

Está todo mundo assustado com isso, o Fed, principalmente. Então, do ambiente externo, eu acho o Copom ainda tem espaço para chamar atenção a respeito das melhoras. O Copom vai ter que reconsiderar a hipótese de acelerar o ritmo de queda. Acho que esse é o tom agora. É reconsiderar a hipótese, mas não vai acelerar antes de do desfecho da das variáveis fiscais lá para março ou abril.

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Inv.com – No ano passado havia uma perspectiva positiva em relação à recuperação da China, o que mudou ao longo do ano. Como essa mudança pode afetar a economia brasileira?

Gonçalves – A China, por mais que cresça menos, cresce. E isso sustenta a nossa exportação de agro e a parte de minério, além de petróleo em boa medida. Não vai acelerar, não vai, mas isso não vai contrair a economia. É um risco que existe, claro, mas acho que não é relevante no sentido de apontar para a queda da atividade de maneira alguma.

Do lado negativo, temos a Argentina, que sem dúvida vai entrar em recessão e isso é ruim para a nossa exportação. Não era lá tão grande assim, mas é relevante.

No restante, o risco está no ritmo em que as condições financeiras globais melhoram, se será mais rápido ou mais lento. Se, do ponto de vista financeiro, o mundo tende a melhorar, isso é, em alguma medida, um incentivo para investimento e pra mercado de risco, com mais interesse em fluxos de capitais.

Inv.com – Algum outro fator que mereça destaque?

Gonçalves – Ainda no horizonte, temos a definição no Congresso de toda a parte ligada a meio ambiente, sustentabilidade, esse assunto que passa pela economia toda e passa, principalmente, por investimento externo. É uma fragilidade. Sei que o Congresso cobra caro, mas a gente acompanha e eu não vi nada evoluindo. Outro ponto é a tal da neopolítica industrial ou política neo-industrial, que também foi anunciada, mas por enquanto aconteceu o que de reorientação, de pensar cadeias de suprimento, indústria de exportação? Passou um ano e está difícil de enxergar alguma coisa. E são dois segmentos que ajudam muito a definir investimento, a principal variável da economia. O governo, no ponto de vista político, concentrou os esforços neste ano na aprovação dos temas fiscais, o que eu avalio que andou bem, mas agora precisa concentrar esforços nesses temas que têm mais a ver com o médio prazo e que puxam o investimento.

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