Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A valorização recente do real será revertida em três e 12 meses, quando a moeda voltará a sentir os problemas fiscais do Brasil enquanto ganha tração a campanha para as eleições do ano que vem, combo que deve diminuir muito chances de aprovação de reformas ainda neste ano, disse Mathieu Racheter, estrategista de mercados emergentes do banco suíço Julius Baer.
A previsão do banco --que no fim de 2020 tinha 434 bilhões de francos suíços sob gestão-- é de que o dólar suba para 5,55 reais em três meses e alcance 5,80 reais em 12 meses. Isso representa uma elevação de 3,5% e 8,2%, respectivamente, ante o patamar atual, de 5,3615 reais.
O dólar caiu 7,1% desde as máximas do fim de março.
"Tem sido difícil falar sobre o cenário para o Brasil", disse Racheter. "No caso do real, os riscos especialmente do lado fiscal vão manter a moeda depreciada, apesar de por cálculos de câmbio justo (o real) estar desvalorizado."
O início do processo de normalização monetária em março e que deve prosseguir em maio e nos meses seguintes dará algum suporte ao real, mas por ora o "carry" (taxa de retorno) da moeda brasileira segue negativo quando ajustado por risco e pela inflação, o que mantém certo desestímulo a operações nos mercados externos que privilegiem o ativo, segundo o estrategista.
Racheter vê riscos de o Brasil voltar à recessão técnica na primeira metade do ano, com queda mais acentuada da atividade no segundo trimestre, diante do agravamento da pandemia de coronavírus no país.
Mas ele ponderou que, em parte, isso está na conta dos mercados e que a partir de agora o ponto mais importante é como novas manchetes de fraqueza da economia podem elevar pressões por mais gastos.
"Somando a isso, você tem as eleições, a chance de Lula poder concorrer novamente... toda a questão fiscal e política junta. Com isso, a probabilidade de aprovação de reformas necessárias para fortalecer as contas públicas está ficando menor."
O profissional do Julius Baer fez ainda um alerta sobre a reticência de estrangeiros em voltar a investidor de forma considerável no Brasil.
"No longo prazo existe um problema de produtividade. E, além disso, enquanto continuarmos a ter notícias sobre problemas ambientais, notícias sobre a Amazônia, achamos que o interesse dos investidores continuará em xeque", afirmou, lembrando que a comunidade financeira está mais atenta a investimentos ESG --conceito normalmente atribuído a empresas, mas, segundo Racheter, no caso aplicável ao Brasil como país.
ESG é a sigla para enviromental, social and corporate governance, política relacionada a critérios de conduta para que as empresas tenham maior governança ambiental, social e corporativa.