Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – Em meio à continuidade do quadro inflacionário nos Estados Unidos, o consenso é de que o Federal Reserve, o Banco Central americano, deve elevar as taxas de juros em meio ponto percentual. Se for este o caso, o ritmo do aperto monetário seria mais ameno, tendo em vista as últimas quatro elevações consecutivas em 0,75 ponto, visando frear a alta histórica nos preços. A decisão será anunciada pelo Federal Open Market Committee (FOMC) nesta quarta-feira, 14.
A taxa de juros atual está no intervalo entre 3,75% e 4%. Caso a elevação de meio ponto seja confirmada, conforme pensam 73,5% dos analistas no monitor de juros do Fed do Investing.com, o indicador iria para a faixa entre 4,25% e 4,50%. Uma parcela menor, de 26,5%, acredita que o aumento deve ser de 0,75 ponto percentual. No entanto, as últimas falas do presidente do Fed Jerome Powell indicam para a primeira opção. A autoridade monetária americana também deve divulgar seu “dot-plot” com as perspectivas de longo prazo, que vão atrair a atenção dos investidores.
Os dados de inflação ao consumidor devem ser divulgados um dia antes, nesta terça-feira, 13. A média das estimativas de analistas compiladas pelo Investing.com é de uma alta mensal de 0,3% em novembro, o que levaria o indicador anual dos 7,7% verificados em outubro para 7,3%.
Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer Family Office, reforça que a redução do ritmo de alta de juros para um movimento de 0,50 ponto na próxima reunião foi bem "telegrafada" por diversos membros do Fed nas últimas semanas e não será uma surpresa. “O Fed já está no ciclo mais agressivo de alta de juros desde o início da década de 80 e, conforme avança no território contracionista da política monetária, faz sentido reduzir a velocidade para minimizar o risco de um aperto excessivo. Neste momento, o ponto terminal do ciclo e quanto tempo a política monetária permanecerá restritiva é mais relevante do que o ritmo das altas de juros”, avalia Fongaro.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, concorda com a visão de que o aumento será de 0,5 ponto. Para Alves, um aumento de 0,25 ponto seria uma grande surpresa, e, se for de 0,75 ponto, haveria contradição em relação às últimas falas de Powell. “A missão de um Banco Central é de se comunicar bem com o mercado sem grandes mudanças ou alterações de percurso porque isso gera instabilidade no sistema”. Para Alves, mais importantes do que o aumento serão as projeções econômicas e a entrevista posterior ao comunicado. “Tenho uma percepção de que haverá um tom mais duro, hawkish, para ajustar as expectativas de mercado”, completa.
A projeção de consenso também é a visão de Raone Costa, economista-chefe da Alphatree. “A decisão marca mudança de passo. O Fed vem dizendo que 0,75 ponto é um passo atípico e está preocupado com nível final da taxa e com a repercussão do aperto monetário. A taxa já está acima do que o Fed entende como neutro”.
"Entre a cruz e a espada"
O ING Economics acredita que o Fed está “entre a cruz e a espada”. Também com expectativa de 0,50 ponto percentual, os analistas do ING afirmam que os esforços do Fed para trazer a inflação de volta à meta vêm sendo minados pela precificação de uma recessão, além da queda dos rendimentos do Tesouro e o enfraquecimento do dólar a nível global. “Uma mensagem hawkish do Fed provavelmente cairá em ouvidos surdos, a menos que os dados comecem a provar que o banco central está certo”, afirma o ING.
Segundo Alves, a economia americana pode entrar em recessão no ano que vem sim, diante de um quadro de inflação em queda, mas ainda persistente. Para a atividade econômica, as perspectivas são ruins, como os índices de confiança negativos, ainda que com um mercado de trabalho aquecido. Por outro lado, preços de imóveis e vendas de casas apontam para outra direção, conforme indicam Costa e Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, que também projeta alta de 0,50 ponto.
Como a maior magnitude dos aumentos nos juros já deve ter sido realizada, os próximos passos são mais incertos. “Começa a haver divergência entre os diretores. Até aqui, altas foram bastante consensuais. A partir de agora, não é tão simples, porque a economia já está desacelerando, pode ser que os diretores comecem discordar sobre os passos futuros, se a próxima reunião será de aumento de 0,50 ponto ou 0,25 ponto, pois começa a ter temor de recessão muito forte”, explica Gala. Os PMIs enfraquecidos e preços da gasolina e de madeira para construção civil em queda também são indicativos que corroboram com essa análise.
Impactos nos mercados
O mercado brasileiro tem adotado postura particular. Enquanto as bolsas de países emergentes voltaram a performar bem, assim como suas moedas, com dólar caindo no mundo, o Ibovespa enfrenta em altas e baixas, diante de um aumento da incerteza política, que leva à maior volatilidade. Para Alves, ingredientes internos fizeram com que bolsa brasileira não aproveitasse bom momento para ativos de risco em novembro, então a decisão deve impactar o mercado local, mas os olhares também estão voltados a importantes pautas domésticas, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição. O especialista afirma que os juros americanos são importantes, mas a dinâmica interna pode ofuscar essa decisão global. Porém, um tom mais hawkish pode prejudicar os ativos de risco. Um cenário neutro para levemente positivo poderia ser o do consenso, enquanto um aumento de 0,75 ponto tenderia a afetar negativamente a bolsa e o câmbio.