Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira em alta, na contramão do exterior, com investidores ajustando posições após o recuo firme visto na véspera e em meio a certo desconforto com as idas e vindas, no Congresso, da proposta do governo de reoneração da folha de pagamentos.
Desde o início da sessão o viés para as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) era positivo, apesar de no exterior os rendimentos dos Treasuries estarem em baixa.
Dois profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que, após o forte recuo da terça-feira, era de se esperar algum ajuste na sessão desta quarta.
“Ontem o mercado tinha ido muito... houve um rali, mas hoje está ajustando”, comentou o economista-chefe da Way Investimentos, Alexandre Espirito Santo.
Segundo ele, também pesava nos negócios certo mal-estar do mercado com a decisão do governo de transferir a proposta de reoneração da folha de pagamentos de 17 setores de uma medida provisória para um projeto de lei.
Na noite de terça-feira, com os mercados já fechados, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a retirada, da MP, da proposta de reoneração, que agora será novamente apresentada ao Congresso por meio de projeto de lei em regime de urgência.
Na prática, o movimento mantém, pelo menos por enquanto, a desoneração dos 17 setores -- algo que vem sendo criticado pelo governo em função de seu peso fiscal.
“Tem um grande mal-estar (no mercado), e não só com a reoneração. Há também as renovadas sugestões de Lula em relação à Vale (BVMF:VALE3), a antecipação da disputa pela presidência da Câmara (marcada para 2025) -- tudo isso causa turbulência desnecessária”, citou Espirito Santo.
Também na terça-feira, em entrevista para a RedeTV!, Lula criticou duramente a administração da Vale e cobrou mais responsabilidade da mineradora, tanto no pagamento de ações indenizatórias quanto na produção. O presidente defendeu ainda que as empresas se alinhem ao modelo de desenvolvimento do governo.
Neste cenário, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2027, que havia cedido 10 pontos-base na véspera, subiu cerca de 4 pontos-base nesta quarta-feira, em meio a ajustes de preços.
No fim da tarde, o Tesouro informou que o governo central registrou superávit primário de 79,3 bilhões de reais em janeiro, ante um saldo positivo de 78,9 bilhões de reais no mesmo mês do ano passado. O governo central compreende as contas de Tesouro, Banco Central e Previdência Social.
Após a divulgação dos números, as taxas dos DIs chegaram a reacelerar as altas, embora os picos da sessão tenham sido vistos no início da tarde.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10%, ante 9,975% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,835%, ante 9,804% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,045%, ante 10,006%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,305%, ante 10,276%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,73%, ante 10,711%.
Perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 89% de chances de o corte da taxa básica Selic em março ser de 50 pontos-base, como vem sinalizando o Banco Central. Atualmente a Selic está em 11,25% ao ano.
No exterior, o viés para os yields dos Treasuries era negativo, com investidores à espera da divulgação do índice de inflação PCE na quinta-feira nos Estados Unidos.
Pela manhã, o Departamento do Comércio informou que o PIB norte-americano cresceu a uma taxa anualizada de 3,2% no último trimestre, em taxa revisada ligeiramente para baixo em relação ao ritmo de 3,3% divulgado anteriormente.
Economistas consultados pela Reuters esperavam que o crescimento do PIB não fosse revisado. A modesta revisão para baixo refletiu um rebaixamento do investimento em estoques privados.
Às 16:51 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 3,50 pontos-base, a 4,2796%.