Juan Palop.
Berlim, 19 dez (EFE).- A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se viu em 2012 cada vez mais isolada em sua defesa incessante das receitas de austeridade econômica, porém, apesar do auge da crise e dos protestos sociais, continuou conseguindo se impor na Europa com a liderança impassível que tantos votos lhe gera em seu país.
A chefe do Governo alemão está convencida de que sua fórmula é a ideal para acabar definitivamente - embora não "da noite para o dia", repetiu - a crise da dívida no Velho Continente.
"Solidariedade e solidez", reiterou a chanceler em seus múltiplos pronunciamentos sobre a crise, ressaltando que as ajudas financeiras aos países com problemas devem seguir, irremediavelmente, os caminhos de programas de consolidação fiscal e de profundas reformas estruturais.
Em Bruxelas, prosperaram neste ano apenas as propostas anticrise que contam com o respaldo de Berlim, apesar do crescente número de países que discordam das receitas de estrita austeridade de Merkel.
Na comparação com o midiático, mas até agora pouco efetivo Pacto para o Crescimento, apoiado pelo governo francês, a chanceler conseguiu que 25 países da UE assinassem em 2012 seu estrito Pacto Fiscal, incluindo a própria França, governada por um Partido Socialista que se opunha a ele.
Além disso, continuou impedindo que fossem adiante instrumentos para a coletivização parcial da dívida pública europeia - como os eurobônus, o fundo de amortização ou os "eurobills" - e está conseguindo regular a seu gosto a união bancária e o plano de compra de bônus do Banco Central Europeu (BCE).
À sua convicção política se une sua impermeabilidade às críticas, tanto às feitas na Alemanha como às provenientes do exterior, o que lhe valeu os apelidos de "teflon Merkel" ou "chanceler de gelo".
Sua forma de liderança é facilmente apreciada ao se analisar a cúpula europeia de junho e o debate sobre a possibilidade de permitir que o fundo de resgate recapitalize diretamente os bancos, surgido pouco antes e liquidado semanas depois pela porta dos fundos.
Se após o Conselho Europeu Merkel apareceu perante a opinião pública como a perdedora da reunião - por ter cedido ante outros grandes países-membros e permitido esta opção -, semanas depois conseguiu estabelecer um acordo apenas revelado com Finlândia e Holanda para, na prática, impedí-la.
Merkel evitou o confronto público e o soco na mesa, conjugou sua convicção com seu provado pragmatismo para conseguir mais tarde que nas letras miúdas do acordo que articulou os empréstimos do fundo aos bancos obrigasse Espanha e Irlanda a garantir os créditos a seu sistema financeiro.
Suas últimas visitas a Espanha, Grécia e Portugal se viram acompanhadas de manifestações e protestos violentos - algo insólito na visita de um chefe de Governo a um país amigo -, e seu nome foi um dos mais repetidos nos cartazes da greve geral pan-europeia de 14 de novembro.
Os apelos para pôr a ênfase no crescimento ao invés de exclusivamente na austeridade - como disse uma capa do jornal "The Economist" com o título "Podemos por favor ligar agora os motores, senhora Merkel?"- também não surtiram efeito algum nela.
Mas a chanceler não está só: tem um importante respaldo político dentro de seu partido, o conservador União Democrata-Cristã (CDU), e entre os cidadãos alemães.
No último congresso ordinário de sua legenda, realizado no começo de dezembro, Merkel foi reeleita como presidente com mais de 97% dos votos dos delegados.
As pesquisas de intenção de voto para as eleições gerais de 2013 na Alemanha também são favoráveis a Merkel, pois a CDU se mantém como maior força política do país, com larga vantagem sobre social-democratas e verdes.
A única dúvida para este pleito parece ser, de acordo com muitos analistas políticos, quem será o parceiro minoritário da próxima coalizão governante, uma sombra que paira sobre os principais partidos da oposição, embora publicamente o neguem. EFE