Por Catarina Demony
LONDRES (Reuters) - A detenção e a deportação indevidas de imigrantes caribenhos no Reino Unido foram o resultado de décadas de leis de imigração racistas, criadas para reduzir a população não branca do país, revelou nesta quinta-feira um relatório oficial retido por um longo período.
Conhecidas como "escândalo Windrush", as revelações dos maus-tratos a milhares de caribenhos prejudicaram a autoridade da ex-primeira-ministra britânica Theresa May, que havia liderado os esforços para combater a imigração ilegal quando dirigia o Ministério do Interior, ou Home Office.
Centenas de milhares de migrantes do Caribe chegaram ao Reino Unido entre 1948 e 1971 em navios como o Empire Windrush para suprir a falta de mão de obra no Reino Unido do pós-guerra.
Em 2018, o Reino Unido teve que se desculpar pelo tratamento dado à "geração Windrush", depois que um endurecimento da política de imigração fez com que milhares de pessoas tivessem seus direitos básicos negados, apesar de terem vivido no Reino Unido por décadas. Dezenas foram deportadas erroneamente.
O governo conservador anterior do no Reino Unido, em 2022, recusou-se a publicar o relatório "The Historical Roots of the Windrush Scandal" (As raízes históricas do escândalo Windrush), rejeitando as solicitações da Lei de Liberdade de Informação.
Agora divulgado pelo recém-eleito governo trabalhista, o relatório constatou que, entre 1950 e 1981, "todas as peças" da legislação de imigração ou cidadania foram projetadas, pelo menos em parte, para reduzir o número de negros autorizados a viver e trabalhar no Reino Unido.
"As principais leis de imigração de 1962, 1968 e 1971 foram elaboradas para reduzir a proporção de pessoas que viviam no Reino Unido e que não tinham pele branca", afirmou o relatório, descrevendo o escândalo Windrush como um "racismo profundamente enraizado".
Encomendada pelo Home Office em resposta a uma análise do governo sobre o escândalo publicada em 2020, a pesquisa baseia-se em centenas de dados dos Arquivos Nacionais do país, entrevistas de história oral e centenas de conversas com funcionários do Home Office.
O relatório, que não faz nenhuma recomendação, também concluiu que a vida dos negros e de outras minorias étnicas no Reino Unido foi "profundamente moldada" pelo Império Britânico.
O Reino Unido disse em 2018 que compensaria alguns imigrantes caribenhos afetados pelo escândalo.
"Gradualmente, as políticas de raça e imigração se entrelaçaram", disse o relatório. "Mesmo quando a escravidão foi finalmente abolida em 1833, a crença de que os negros não tinham direito ou eram incapazes de ter status igual ao dos brancos dentro do Império Britânico permaneceu intacta."
(Reportagem de Catarina Demony)