Por Marcela Ayres e Andrea Shalal e Christian Kraemer
SÃO PAULO (Reuters) - Os líderes de finanças do G20 devem fazer uma referência superficial aos conflitos regionais em sua avaliação dos riscos econômicos globais, de acordo com uma versão preliminar do comunicado vista pela Reuters, devido às profundas divisões entre os países sobre as guerras em Gaza e na Ucrânia.
A versão preliminar do comunicado, que está muito mais curto do que nos anos anteriores conforme o Brasil, anfitrião do G20, trabalha para evitar controvérsias geopolíticas, também afirma que a probabilidade de um pouso suave na economia global tem aumentado, mas a incerteza continua alta.
"Os riscos para as perspectivas econômicas globais estão mais equilibrados", com uma desinflação mais rápida do que o esperado e uma consolidação fiscal mais favorável sustentando o crescimento, afirma o documento.
Após uma reunião de ministros das Relações Exteriores no Rio de Janeiro na semana passada focada nas profundas divisões sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia e o bombardeio de Gaza por Israel, espera-se que as autoridades financeiras do G20 deixem de lado a geopolítica e se concentrem nas questões econômicas globais quando se reunirem em São Paulo nesta semana.
O esboço do comunicado que os vice-ministros das Finanças estão revendo reflete um esforço delicado para reconhecer os conflitos regionais, mantendo ao mesmo tempo o consenso, que o Brasil tem enfatizado durante a sua presidência do G20.
"Entre os riscos negativos para a economia global estão (guerras e) a escalada de conflitos, a fragmentação geoeconômica, o aumento do protecionismo e as perturbações nas rotas comerciais", mostra o esboço.
O fato de as palavras "guerras e" estarem entre parênteses sugere que ainda não houve consenso dentro do grupo sobre a inclusão da linguagem na versão final, disse uma fonte com conhecimento do assunto.
A coordenadora brasileira da trilha de finanças do G20, Tatiana Rosito, disse nesta terça-feira que o grupo está a caminho de um "comunicado curto que reflita as prioridades brasileiras".
Embora as guerras na Ucrânia e em Gaza possam não ser mencionadas diretamente no comunicado conjunto e terem menos ênfase nas sessões plenárias, é provável que recebam muita atenção nas discussões paralelas.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, pediu nesta terça-feira aos aliados que avancem urgentemente para desbloquear o valor dos ativos soberanos russos congelados para ajudar a Ucrânia, durante uma coletiva de imprensa em São Paulo.
O Canadá apoiou a ideia dos EUA. A ministra das Finanças canadense disse nesta terça que os dois países concordaram com a necessidade urgente de avançar com os confiscos de ativos russos congelados, para ajudar a Ucrânia.
Espera-se que ela e seus pares do G7 discutam o assunto durante uma reunião separada na quarta-feira.
O ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, alertou que a proposta de Yellen, se concretizada, levará a uma resposta que pode escalar as tensões.
"Acreditamos que essa proposta é profundamente falaciosa e também destrutiva porque ela mina a própria fundação e pilares do sistema financeiro global", disse ele a repórteres.
Yellen também disse que Israel concordou em retomar as transferências de receitas tributárias para a Autoridade Palestina a fim de financiar serviços básicos e fortalecer a economia da Cisjordânia.
PROGRESSO NAS NEGOCIAÇÕES
O progresso no comunicado proposto pelo Brasil está avançando bem na reta final, disse um representante do governo alemão nesta terça-feira.
"A coisa toda está progredindo muito bem", disse o representante em uma coletiva de imprensa na Alemanha, acrescentando que o documento final destacará a resiliência econômica global, ao mesmo tempo que salientará questões como a desigualdade entre países e as dívidas excessivas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está pressionando para dar mais voz aos países em desenvolvimento do Sul Global nas reuniões do G20 durante a presidência do Brasil, refletido no foco do comunicado no combate à fome, à pobreza e à desigualdade.
Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, também disse em um briefing que não havia nenhuma proposta concreta sobre a mesa para a negociação de dívidas, acrescentando que a ideia é criar um novo "momento" para avançar na questão, incluindo também a discussão de mecanismos preventivos.
As autoridades financeiras e os chefes de bancos centrais do G20 estão se reunindo para analisar os desenvolvimentos econômicos globais em um momento de desaceleração do crescimento, tensões crescentes por dívidas recordes e preocupações de que a inflação possa ainda não estar controlada.
No esboço do comunicado, os líderes financeiros do G20 apresentaram uma visão otimista sobre as perspectivas para os preços. A inflação diminuiu na maioria das economias, disseram, graças em parte a políticas monetárias "apropriadas", à redução dos gargalos na cadeia de suprimento e à moderação dos preços das commodities.
A prioridade para os bancos centrais ainda é garantir que a inflação convirja para a meta "em linha com os seus respectivos mandatos", afirma o documento.
O esboço também afirma que o G20 reafirma seu compromisso com a taxa de câmbio, que alerta contra a volatilidade excessiva e os movimentos cambiais voláteis como indesejáveis para o crescimento econômico.
(Por Marcela Ayres e Andrea Shalal em São Paulo, Christian Kraemer em Berlin)