Por Miguel Lo Bianco e Claudia Martini
BUENOS AIRES (Reuters) - Há uma semana, 20 quilos de macarrão eram suficientes para alimentar as dezenas de famílias que usavam o refeitório comunitário de Sal de la Tierra em Villa Fiorito, um subúrbio pobre de Buenos Aires atingido pela crise econômica que assola a Argentina.
Mas com a inflação mensal chegando a 20%, o número de moradores famintos aumentou. Esta semana, o sopão, que depende de contribuições privadas e trabalho voluntário, teve que preparar 30 quilos de macarrão.
"Há cada vez menos para dar e cada vez mais fome", disse Maria Torres, cozinheira voluntária da instituição de caridade, que atualmente está desempregada. Hoje, há cerca de 70 famílias para alimentar, em comparação com 20 famílias há alguns meses, disse ela.
A agência de estatísticas da Argentina publicou nesta quarta-feira uma inflação anual de 254%, enquanto a inflação de janeiro caiu para 20,6%, em comparação aos 25,5% do mês anterior, um pouco abaixo das previsões de 257% e 21%, de acordo com analistas consultados pela Reuters.
Em dezembro, os preços dobraram na comparação mensal após a posse do presidente libertário Javier Milei, que rapidamente desvalorizou o peso, cortou subsídios públicos e afrouxou alguns controles de preços, levando a inflação aos níveis mais altos desde a crise de hiperinflação do país nos anos 1990.
O governo de Milei prevê uma queda gradual da inflação nos próximos meses, embora a pobreza, que atualmente chega a 40%, possa disparar antes que a economia se estabilize.
Economistas entrevistados pela Reuters em janeiro disseram que esperam que a inflação permaneça alta na Argentina durante o primeiro semestre de 2024, arrefecendo apenas no segundo semestre do ano, já que uma recessão crescente provavelmente desacelerará novos aumentos.
O FMI prevê que a economia da Argentina tenha uma contração de 2,5% em 2024.