Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A atividade econômica brasileira recuou 0,55 por cento em dezembro e encerrou o quarto trimestre e 2014 com contração, mostraram dados do Banco Central nesta quinta-feira, o primeiro resultado negativo anual desde 2009, auge da crise financeira internacional.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC --considerado uma espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB)-- apontou que o quarto trimestre fechou com queda de 0,15 por cento em relação aos três meses anteriores segundo dados dessazonalizados, depois de alta de 0,48 por cento no terceiro trimestre sobre o segundo, de acordo com os números do BC.
Para todo o ano de 2014, o indicador indicou que a economia brasileira registrou retração de 0,12 por cento.
O resultado de dezembro do IBC-Br destaca a debilidade da atividade no final do ano passado, ao mostrar enfraquecimento em relação ao dado mensal de novembro, apesar de ter sido um pouco melhor do que a mediana das 21 expectativas em pesquisa da Reuters de queda de 0,8 por cento.
O cenário do final de 2014 fica ainda pior com a revisão pelo BC do número mensal de novembro para estagnação, após variação positiva de 0,04 por cento divulgada anteriormente.
"O número reforça o quadro negativo da atividade econômica em 2014. Estes dados são compatíveis com nossa expectativa de aumento do PIB de 0,1 por cento no quarto trimestre e variação zero em 2014", apontou a consultoria Rosenberg & Associados em nota assinada pela economista-chefe Thais Marzola Zara.
Na comparação com dezembro de 2013, o IBC-Br --que incorpora estimativas para a produção nos três setores básicos da economia: serviços, indústria e agropecuária, assim como os impostos sobre os produtos-- teve queda de 0,12 por cento, também em dados dessazonalizados.
RISCOS
A economia brasileira patinou durante 2014, afetada pela confiança baixa tanto de empresários quanto de consumidores diante do cenário de inflação alta, crescimento baixo e juros elevados.
A indústria exerceu um dos maiores pesos sobre a atividade, tendo fechado 2014 com queda de 3,2 por cento, o pior resultado em cinco anos e com forte debilidade dos investimentos, após recuo de 2,8 por cento em dezembro.[nL1N0VD0V4]
O varejo também enfrentou um ano complicado. Embora tenha terminado 2014 com crescimento nas vendas de 2,2 por cento, este foi o desempenho mais fraco em 11 anos e com queda recorde de 2,6 por cento em dezembro sobre novembro.[nL1N0VL15C]
O IBGE divulga os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre e de 2014 fechado no dia 27 de março.
No terceiro trimestre, segundo os cálculos do IBGE, o país cresceu apenas 0,1 por cento na comparação com os três meses anteriores, saindo da recessão técnica pela margem mínima, mas esse número ainda pode ser revisado.
Pesquisa Focus do BC mostra que a expectativa do mercado é de que, em 2014, a expansão do PIB tenha sido de 0,07 por cento.[nEMNF260S2]
Para este ano a projeção no Focus é ainda pior, de variação zero para o PIB. Mas especialistas destacam que os riscos de racionamento de energia elétrica e água podem afetar ainda mais a economia.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, projeta recuo do PIB de 0,1 por cento em 2014 e queda de 0,5 por cento em 2015, "sendo que os riscos de racionamento de energia elétrica e de água podem levar o PIB a recuar até 1,5" neste ano.