Por Ann Saphir e Richard Leong
(Reuters) - A decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, nesta quinta-feira de impor novas tarifas às importações chinesas jogou uma batata quente nas mãos do Federal Reserve que pode forçar o banco central dos Estados Unidos a cortar novamente os juros para proteger a economia dos EUA dos riscos relacionados à política comercial.
Em uma série de tuítes, Trump disse que vai cobrar 10% de tarifas sobre 300 bilhões de dólares em importações chinesas a partir de 1º de setembro. Os mercados imediatamente precificaram chances de que o Fed tenha que reduzir as taxas de forma mais agressiva.
Trump anunciou uma primeira rodada de impostos, de 25% sobre 200 bilhões de dólares em produtos chineses, em maio. As tarifas visam pressionar a segunda maior economia do mundo a fechar um acordo comercial.
A pressão que essas tarifas e outras políticas comerciais de Trump tiveram sobre a confiança e o investimento das empresas foi um fator-chave para a decisão do Fed nesta semana de cortar as taxas de juros pela primeira vez desde a crise financeira.
O chairman do Fed, Jerome Powell, disse que vê o corte como uma apólice de seguro contra os efeitos da incerteza do comércio, fraco crescimento global e baixa inflação. Powell classificou o corte como "ajuste de meio de ciclo" e não o começo de um longo ciclo de corte de juros.
"Qualquer novo corte na taxa de juros pelo Fed deixará de ser considerado um ajuste no meio do caminho, pois será considerado necessidade para evitar uma recessão", disse Lou Brien, analista da DRW Holdings, em referência a um cenário em que os problemas tarifários evoluam para uma ampla guerra comercial.
Operadores estão apostando que novas tarifas tornarão mais provável um ciclo mais longo de corte de juros.
Os preços de contratos futuros de taxas de juros dos EUA subiram, com os investidores antevendo que o banco central vai cortar as taxas mais duas vezes até o final do ano e reduzi-las ainda mais no ano que vem para compensar os riscos da escalada da guerra comercial.
Operadores veem 70% de chance de o Fed baixar o juro novamente em setembro, ante 51% no final da quarta-feira, mostrou a ferramenta FedWatch do CME Group.
Os contratos sugerem que operadores estão reconstruindo apostas em uma possível terceira redução de juros até o fim do ano, com probabilidade de 60%, ante 39% na quarta-feira.
Enquanto isso, o spread entre os "yields" dos Treasuries de três meses e 10 anos subiu de 1 ponto-base no começo desta quinta-feira para 18 pontos-base.
Esse tipo de "inversão da curva de juros" é frequentemente lido como um sinal de que uma desaceleração econômica está a caminho e que a política monetária do Fed pode estar muito restritiva.
"A palavra-chave é 'incerteza'", disse Richard Bernstein, executivo-chefe da Richard Bernstein Advisors. "A incerteza age como o aperto monetário do Fed. Isso aumenta os prêmios de risco" e busca por proteção. Ponto final."
(Reportagem adicional de Trevor Hunnicutt e Herbert Lash)