Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil fechou 2020, marcado pela grave crise da pandemia do coronavírus, computando a criação de 142.690 vagas de trabalho com carteira assinada no ano, e o governo já estuda reeditar medidas de proteção ao emprego, informou o Ministério da Economia nesta quinta-feira.
Depois de registrar o fechamento de mais de 1,6 milhão de vagas formais de trabalho de março a junho, sob o impacto do fechamento da economia e das medidas de isolamento social, o país voltou a registrar saldos positivos de postos, com o lançamento do Benefício Emergencial (BEM).
O programa permitiu que as empresas suspendessem provisoriamente os contratos de trabalho ou reduzissem as jornadas e os salários dos empregadores, que receberam uma compensação parcial em pagamentos do governo. As demissões ficaram vetadas temporariamente para as empresas que aderissem.
No ano, foram fechados 20,1 milhões de acordos no BEM, contemplando cerca de 9,8 milhões de trabalhadores e 1,5 milhão de empresas, segundo o Ministério da Economia. A maior parte dos acordos foi pela suspensão dos contratos (8,7 milhões) e pela redução de 70% dos salários e jornadas (4,4 milhões).
Questionado nesta quinta-feira se medidas semelhantes poderiam ser adotadas este ano diante da imposição de novas restrições para conter o coronavírus, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, disse que a possibilidade está em estudo.
"Estamos avaliando, em conjunto com a evolução dos acontecimentos, se devemos ou não lançar mão de mais medidas relativas a momentos de crise", disse Bianco.
"Isso sempre esteve na prancheta, em momento algum nós deixamos de lado esse pensamento, mas obviamente isso demanda uma análise das circunstâncias e também demanda uma análise política, que nós estamos fazendo junto com nosso ministro e também junto com o presidente da República."
Ele descartou o risco de o país sofrer uma "ressaca" com uma onda de demissões, argumentando que o governo está atento, que os maiores efeitos da crise sobre o mercado de trabalho já ficaram para trás e que o momento é de volta à normalidade.
Em rápida fala à imprensa para comentar os dados do Caged, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a prioridade do país agora é saúde, emprego e renda.
"Esperamos que assim que o Congresso retorne, resolvido o problemas das novas lideranças e das presidências da Câmara e do Senado, que o governo possa avançar com as reformas", afirmou. "Voltando o Congresso nós temos condições então de atacar saúde, emprego e renda, que são nossas prioridades para 2021."
O setor de serviços, o mais prejudicado por medidas de distanciamento social adotadas na pandemia, foi o único que fechou vagas formais de emprego no acumulado do ano passado (-132.584). A construção, por outro lado, foi o setor campeão de criação líquida de vagas (+112.174), seguido da indústria (+95.588), agropecuária (+61.637) e comércio (+8.130).
O Rio de Janeiro foi o Estado com o pior desempenho no emprego formal, tendo registrado o fechamento de 127.155 vagas no ano. Na outra ponta, Santa Catarina criou o maior número de postos, 53.050.
DEZEMBRO
Em dezembro, o país fechou 67.906 vagas formais de trabalho, a menor perda para o mês desde 1995. O resultado superou as expectativas de analistas consultados pela Reuters, que previam o fechamento de 115 mil postos no mês, que historicamente tem fechamento de vagas, com um aumento de demissões após as contratações feitas nos meses anteriores para atender à demanda de final de ano.
O fechamento líquido de vagas no mês foi o mais baixo desde 1995 (-42.328) e ficou bem inferior ao registrado em dezembro de 2019 (-307.311 vagas).
Os dados do emprego com carteira assinada contrastam com os números do mercado de trabalho geral, incluindo os informais, que apontam para um desemprego historicamente elevado, de 14,1%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgados nesta quinta.
(Com reportagem adicional de Luana Maria Benedito)