Por Luiz Guilherme Gerbelli
SÃO PAULO (Reuters) - A deterioração do mercado de trabalho no Brasil tem sido marcada por uma espécie de paradoxo, num cenário em que os trabalhadores sem qualquer tipo de instrução educacional e aqueles que cursaram o ensino superior estão sendo afetados de forma igual, e menos intensa, pelo aumento do desemprego.
Entre 2014 e 2016, a probabilidade de os trabalhadores desses dois grupos estarem empregados recuou 2,3 pontos percentuais, segundo estudo da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe) elaborado a pedido da Reuters. O levantamento foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
O levantamento da Fipe mostrou ainda que a piora mais expressiva na probabilidade de emprego ficou concentrada entre os trabalhadores com ensino fundamental incompleto e com curso médio incompleto, ou equivalentes. A queda nesses dois grupos foi de 4,3 e 4 pontos percentuais, respectivamente, no período.
"As pessoas com curso superior conseguem se proteger melhor da crise, e o trabalhador sem instrução costuma ser uma mão de obra demandada", disse o pesquisador da Fipe e responsável pelo levantamento, Alison Oliveira.
"Não é fácil substituir ou mecanizar o trabalho de um profissional sem instrução, como de domésticas e dos que trabalham em construção, por exemplo", acrescentou.
Apesar de serem os menos afetados pelo desemprego, os brasileiros sem qualquer tipo de instrução educacional são os que têm menos chances de estarem empregados. Ao contrário dos que cursaram o ensino superior, cuja probabilidade era de 81 por cento no ano passado. Ou seja, de cada dez trabalhadores com esse nível de escolaridade, oito tinham chances de estar empregados. Para o trabalhador sem escolaridade, no entanto, essa chance despencava para 46,4 por cento.
"Mesmo com o aumento do desemprego, os mais escolarizados conseguiram se manter no mercado de trabalho migrando para outras opções de trabalho como pessoa jurídica ou até mesmo passando para a informalidade", afirmou a pesquisadora do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Maria Andreia Lameiras.
No período analisado pela Fipe, a economia brasileira enfrentou forte recessão. A consequência mais perversa foi o brutal aumento de desemprego, que passou de 6,5 por cento no trimestre encerrado em dezembro de 2014 para 12 por cento no fim de 2016, segundo a Pnad Contínua.
No geral, a pesquisa da Fipe mostrou que a probabilidade de um brasileiro estar empregado ao fim de 2016 era de 64,2 por cento, queda de 3,2 pontos percentuais em relação ao fim de 2014.
REGIÃO
A Fipe também mapeou as chances de emprego por regiões no Brasil e o resultado não chega a surpreender: os Estados que mais sofreram foram os do Norte e do Nordeste, locais que passaram a ter forte dependência do setor de serviços nos últimos anos.
Roraima foi, de longe, o mais afetado, cuja probabilidade de estar empregado recuou 9,1 pontos percentuais, para 60,8 por cento entre 2014 e 2016. Na sequência apareceram Maranhão (-6,6 pontos percentuais) e Sergipe (-5,9 pontos percentuais).
"Durante o crescimento econômico da década passada, houve forte aumento de emprego no setor de serviços. É um setor que demanda baixa qualificação e que se destacou no Nordeste, mas que agora tem sido fortemente afetado pela crise", afirma o professor da Unicamp e especialista em mercado de trabalho, Claudio Dedecca.