O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem tomado medidas que visam a evitar o aumento no preço do arroz depois do desastre no Rio Grande do Sul. O Estado é o maior produtor do grão no país e um desabastecimento tende a acelerar uma alta nos preços, pois é um dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros.
O arroz apresentou deflação (queda de preços) de 1,93% em abril na comparação com o mês anterior, segundo o relatório mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No mês, foi um dos produtos que mais puxou o índice geral para baixo, com um impacto de 0,02 ponto percentual. Em março, foi registrada deflação de 0,90% no arroz.
A inflação é mensurada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). O indicador é usado para medir a variação dos preços, ou seja, quanto vale o dinheiro de forma real.
Há 2 fatores sobre as enchentes do Rio Grande do Sul que podem levar ao aumento da inflação do arroz:
1) a dificuldade de transportar o que foi produzido para o resto do Brasil, como reportado pelo Ministério da Fazenda em 16 de maio;
2) o impacto da enchente na qualidade do solo, que pode impactar a qualidade e a quantidade das novas safras.
“Muitos nutrientes foram levados pelas águas. A produção certamente será afetada”, disse ao Poder360 Luiz Afonso dos Santos Senna, professor da Escola de Engenharia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
O governo Lula baixou novas regras para evitar o desabastecimento decorrente da dificuldade de transporte do grão. A maioria delas se dá com medidas de incentivo à importação.
Eis algumas das iniciativas:
- 8.mai – anuncia-se a compra do item de países do Mercosul;
- 10.mai – autoriza-se a importação de 1 milhão de toneladas de arroz;
- 20.mai – governo zera Imposto de Importação que incide no produto;
- 24.mai – destina R$ 6,7 bilhões em crédito extraordinário para comprar o alimento do exterior.
Como mostrou o Poder360, a inflação dos alimentos preocupa o Planalto. O indicador tende a influenciar a popularidade de um governo, especialmente entre a população mais pobre.
No começo de 2024, pesquisas mostraram uma oscilação desfavorável a Lula em relação a sua popularidade.
O Ministério da Fazenda piorou suas expectativas de inflação para o fim de 2024 com a possível alta no preço dos alimentos em 0,2 ponto percentual. O órgão aumentou a projeção para 3,7%. Em março, esperava-se que fosse de 3,5%.
“Os preços desses alimentos devem subir de maneira mais pronunciada nos próximos 2 meses, mas parcela relevante desse aumento deve ser devolvida nos meses seguintes”, diz o Boletim Macrofiscal mais recente do ministério (íntegra – PDF – 3 MB).
O presidente do Banco Central, Campos Neto, também demonstrou preocupação sobre a possível alta da inflação dos alimentos influenciada pela tragédia gaúcha.
“Se começa a pensar que, por causa do Rio Grande do Sul, o preço dos alimentos vai ser um pouco mais alto, você tem um número [da taxa de inflação do setor] que pode ser um pouco maior”, declarou Campos Neto na 6ª feira (24.mai) em seminário da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Se aumentarem as perspectivas de alta na inflação, crescem as chances de o BC (Banco Central) repensar de forma mais rígida os cortes de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em 18 e 19 de junho.
Juros mais elevados controlam a inflação. O crédito mais caro desacelera o consumo e a produção. Como consequência, os preços tendem a não aumentar de forma tão rápida.