Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A prévia da inflação oficial deu um salto em outubro, marcando a maior taxa para o mês em 26 anos e com piora qualitativa, numa evidência de desafios ainda maiores à política monetária conforme os preços disparam num contexto de deterioração da percepção de risco fiscal.
As leituras mensais e em 12 meses do IPCA-15 vieram bem acima das estimativas de analistas consultados pela Reuters, o que provocava um novo rali nas taxas dos contratos de juros futuros negociados na bolsa brasileira, movimento que endossava apostas do mercado de alta de 1,50 ponto percentual ou mais da Selic na quarta-feira e perspectivas de juro perto de 11,5% já em março do ano que vem.
A taxa de 1,20% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi a mais elevada para qualquer mês desde fevereiro de 2016 (+1,42%), segundo dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira. Em outubro de 2020, o índice tivera acréscimo de 0,94%.
Com o resultado deste mês, o IPCA-15 acumula alta de 8,30% no ano. Em 12 meses, a taxa foi a 10,34%, acima dos 10,05% registrados no mesmo período até setembro.
Os dados vieram bem acima das medianas das estimativas apuradas em pesquisa da Reuters, que indicavam alta de 0,97% no mês e de 10,09% em 12 meses.
Além do índice cheio, os núcleos da inflação --medidas que visam expurgar itens mais voláteis para permitir uma leitura mais precisa dos preços-- seguiram pressionados e vieram acima das estimativas da XP.
O IPCA-EX3, por exemplo --indicador subjacente de custos industriais e de serviços--, acelerou a 0,69% em outubro, acima da previsão da XP de 0,50% e do número de setembro (+0,60%), indicativo.
O IPCA-DP --dupla ponderação, que reduz o peso de itens mais voláteis-- até desacelerou a alta para 0,79% (de 0,82% em setembro), mas ainda veio muito acima da previsão de 0,67% da XP.
Os núcleos resistentemente pressionados são uma evidência da propagação dos choques primários --vindos da alta das commodities, da desvalorização da taxa de câmbio e da interrupção das cadeias de abastecimento, entre outros fatores-- aos preços gerais, com analistas vendo risco na persistência desses níveis elevados.
"O IPCA-15 de 1,20% em outubro é o maior para o mês desde 1995. Não é um dado de alta frequência isolado. A inflação vem piorando de forma consistente há algum tempo. Núcleos mostram elevada disseminação das pressões de preços. Não se trata apenas de choques de oferta", comentou Sérgio Goldenstein, chefe da área de estratégia da Renascença.
"A hora de agir é agora. Uma alta de 150 pontos-base (no juro) parece ser o cenário mais provável, mas não dá para descartar um aperto ainda maior. Atuando de forma mais tempestiva, talvez a taxa Selic terminal não precise ser tão alta", completou o ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Bacen.
O BC começa nesta terça reunião de política monetária que se estenderá até quarta, quando o Copom divulgará sua decisão. Departamentos econômicos de grandes instituições financeiras migraram em peso as apostas de elevação de 1 ponto percentual para alta na faixa entre 1,25 ponto percentual e 1,50 ponto, mas a curva de juros era ainda mais agressiva, embutindo acréscimo de 1,84 ponto.
GRUPOS DO IPCA-15
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados mostraram aumento de custos em outubro, com o maior impacto (0,43 ponto percentual) e a maior variação (+2,06%) vindo de Transporte.
O grupo Habitação veio na sequência, com a alta de 1,87% adicionando 0,30 ponto percentual ao IPCA-15 cheio. A inflação nesse grupo acelerou em relação a setembro, quando havia marcado 1,55%.
A prévia da inflação foi pressionada ainda por Alimentação e bebidas, que viu alta de 1,38% nos preços, mais um grupo a mostrar intensificação na elevação dos custos --em setembro, tinha registrado acréscimo de 1,27%.