SÃO PAULO (Reuters) - As montadoras brasileiras tiveram altas expressivas de produção em fevereiro, mas as vendas no mercado interno recuaram, em um movimento abaixo do esperado pelo setor, que cobra ações do governo para desengavetar concessões como forma de incentivar o investimento no país e a retomada da economia.
A produção subiu 15 por cento em fevereiro sobre janeiro e saltou 39 por cento sobre um ano antes, para 200,4 mil unidades. Enquanto isso, as vendas no mercado interno tiveram queda de 7,8 por cento na comparação mensal e de 7,6 por cento na relação anual, para 135,7 mil unidades.
Parte do crescimento da produção ocorreu para sustentar expansão das exportações, recordes para o primeiro bimestre, afirmou o presidente da associação de montadoras, Anfavea, Antonio Megale.
"O mercado interno ainda está fraco, tínhamos expectativa de um número um pouco maior em fevereiro", disse Megale a jornalistas. "Já a produção, apesar de ter vindo forte, mostra que ainda estamos em níveis de 2006", acrescentou. "A produção está contemplando o esforço de exportação, mas ainda não compensa a capacidade ociosa de 52 por cento" da indústria, disse Megale.
O setor exportou em fevereiro 66.268 veículos, um salto de 75 por cento sobre janeiro e de 82 por cento ante fevereiro de 2016. No acumulado do primeiro bimestre, o crescimento foi de 73 por cento sobre um ano antes, para 104,2 mil unidades, recorde histórico.
Megale afirmou que as montadoras do Brasil elevaram vendas para praticamente todos os mercados latinos, incluindo o principal cliente, a Argentina, e também Colômbia, Peru, Uruguai e Bolívia. No México, o nível das vendas se manteve estável no período, disse o presidente da Anfavea sem dar detalhes.
Segundo ele, o governo brasileiro precisa incentivar o investimento no país, algo que inclui concessões de infraestrutura. "Entendemos que a retomada do país não se dará pelo consumo, mas por investimento e é importante que os anúncios de concessões do governo comecem de fato a acontecer", disse Megale.
O governo federal deve anunciar nesta terça-feira um conjunto de 55 projetos de concessões nas áreas de energia, transporte e saneamento, incluindo renovações de concessões de ferrovias, informou uma fonte próxima do assunto à Reuters na segunda-feira.
O presidente da Anfavea justificou a tese do crescimento via investimento por conta do elevado desemprego no país e PIB de 2016 que veio abaixo do esperado, em especial o do último trimestre. Para especialistas consultados pela Reuters, a queda de 0,9 por cento do PIB no quarto trimestre sobre os três meses anteriores deve fazer com que as projeções de crescimento da economia para 2017 sejam reduzidas.
Por enquanto, porém, a Anfavea manteve sua projeção de alta de 11,9 por cento na produção de veículos em 2017, para 2,41 milhões de unidades, e de crescimento de 4 por cento nas vendas no mercado interno, a 2,13 milhões. A expectativa da entidade é que a recuperação de fato do setor comece em algum ponto do segundo semestre.
Para março, a esperança é de vendas no Brasil melhores que as de fevereiro, apoiadas em parte pelo efeito calendário de mais dias para comercialização que fevereiro, mês em que o estoque de veículos novos à espera de comprador cresceu 9,5 por cento sobre janeiro, para 205,5 mil unidades.
O setor espera também um impulso pontual nas vendas a partir deste mês a ser gerado pela liberação pelo governo federal de saques de contas inativas do FGTS. O governo calcula que 40 bilhões de reais serão injetados na economia com a liberação.
"Vai ser um movimento importantíssimo, mas vai incentivar o consumo de forma pontual. O grande impacto será agora, esperamos que boa parte destes recursos venham para nosso setor, mas os consumidores vão usá-los também para pagar dívidas", disse Megale.
(Por Alberto Alerigi Jr.)