Por Jake Spring e Gloria Dickie e Kate Lamb
SÃO PAULO (Reuters) - Um ano depois de mais de 140 países prometerem acabar com todo o desmatamento até 2030, pouco foi feito para financiar proteções ou passar novas leis de conservação, dizem especialistas.
A promessa foi amplamente elogiada na cúpula do clima COP26 ano passado, especialmente porque Brasil, Indonésia e Congo comprometeram-se com ela. Esses três países juntos representam mais de metade das florestas tropicais do mundo.
“O que aconteceu com essas promessas? Estamos caminhando para cumpri-las? A resposta curta… é não”, disse Erin Matson, que coordenou organizações sem fins lucrativos na produção do relatório Avaliação de Declaração Florestal mês passado.
Para cumprir a promessa, o mundo precisa garantir uma redução de 10% de área desflorestada em média a cada ano, de 2021 a 2030. Em vez disso, o desmatamento caiu apenas 6,3% ano passado, com duas das três nações com florestas tropicais enfrentando obstáculos iniciais.
O relatório usa dados do projeto de monitoramento Global Forest Watch e observa avanços em financiamento, leis de conservação e produção de alimentos sustentáveis.
A maioria dos países que fez a promessa ainda não detalhou planos para aprovar proteções mais fortes à floresta ou para implementá-las. O financiamento global para o objetivo totaliza cerca de 2,3 bilhões de dólares por ano - longe dos 460 bilhões de dólares que a avaliação diz que são necessários.
Especialistas esperam que a conferência COP27 da próxima semana em Sharm el-Sheikh, no Egito, encoraje mais investimento de empresas e países que buscam compensar suas emissões preservando e regenerando florestas.
Os negociadores trabalharão na cúpula para finalizar regras para o comércio global de compensação, com o objetivo de ter o sistema em operação até 2025, disse Laura Albuquerque, administradora sênior da consultoria WayCarbon. Se não houver um acordo na COP27, esse cronograma seria adiado em pelo menos um ano.
“A COP dará um sinal importante para o setor florestal”, disse. “É extremamente importante para trazer investimento”.
BRASIL
O maior país com florestas tropicais também é líder mundial em desmatamento, com a Amazônia sofrendo com extração ilegal de madeira, agricultura e especulação de terras.
A destruição aumentou desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo em 2019, revertendo as proteções ambientais e buscando desenvolver a região. Apesar disso, o governo de Bolsonaro prometeu no ano passado acabar com o desmatamento brasileiro até 2028.
Dados preliminares do governo mostram que o Brasil está longe desse caminho, com o desmatamento aumentando outros 23% em 2022, depois de atingir uma alta de 15 anos em 2021.
Ambientalistas e cientistas esperam que a situação se reverta após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado, que promete uma série de ações para combater o desmatamento e as mudanças climáticas. Mas o mundo deve pressionar Lula para entregar tais mudanças, disseram.
"A pressão da comunidade internacional sobre Lula é igualmente bem-vinda", disse a ecologista Rita Mesquita, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. "Precisamos de desmatamento zero."
Lula planeja participar da COP27, antes de assumir o cargo em janeiro, em uma tentativa de restabelecer a liderança do Brasil em desmatamento e mudanças climáticas, disseram seus assessores à Reuters.
Eles dizem que o presidente trabalhará imediatamente para proteger a Amazônia, inclusive aumentando os recursos para policiar o desmatamento que havia sido cortado por Bolsonaro.
(Por Jake Spring em São Paulo, Gloria Dickie em Londres, e Kate Lamb em Sydney; Reportagem adicional de Alessandra Prentice em Dakar, Senegal)