SÃO PAULO (Reuters) - O Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 14,25 por cento ao ano, em decisão unânime e amplamente esperada pelo mercado, mas retirou do comunicado referência sobre a convergência da inflação para a meta no final do próximo ano.
"O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária", disse Copom em comunicado, acrescentando que "a política monetária se manterá vigilante para a consecução desse objetivo".
Veja a seguir comentários sobre a decisão do Copom:
ALBERTO RAMOS, DIRETOR DE PESQUISA ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA, GOLDMAN SACHS
"O Copom agora está mirando a convergência para a meta no horizonte relevante da política monetária, o que significa, tradicionalmente, dois anos à frente (por exemplo, 4º trimestre de 2017)."
"Ao mudar a orientação e ampliar o horizonte para alcançar a meta, o Copom reconheceu de forma implícita que levar a inflação de perto de dois dígitos ao final de 2015 à meta de 4,5 por cento até o final de 2016 provavelmente iria exigir outra rodada significativa de alta de juros, algo que o Copom não está inclinado a validar dada a profunda e provavelmente longa recessão e a incerteza macro e política."
CARLOS KAWALL, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO J.SAFRA
"Minha interpretação é como se estivesse dizendo que isso (convergência para meta ao final de 2016) vai ocorrer um pouco mais à frente. Por outro lado, ao agregar a ideia de que a política vai ser vigilante, ele introduz a ideia de que vai tolerar uma convergência um pouco mais à frente, mas não muito distante do que ele originalmente planejava."
"Ele também está dizendo que sob determinadas condições ele poderá sim agir, acho que ele quer esperar um pouco mais as definições. Acho que o que está muito claro que o problema não vem do BC, é problema da política fiscal e da incerteza política. Nesse sentido eu acho que veio dentro do esperado, acho que é a decisão correta e acho que fiquei satisfeito com a decisão."
"O comunicado é bem equilibrado e a absorção pelo mercado amanhã deve ser tranquila"
TATIANA PINHEIRO, ECONOMISTA, SANTANDER BRASIL
"Veio dentro das expectativas. O que chamou a atenção foi a mudança no comunicado com a extensão do horizonte para o alcance da meta. Para nós, horizonte relevante é o período de dois anos, o que leva a 2017 o alcance da meta."
"A mudança no comunicado não muda nossa avaliação. Minha projeção para o final de 2015 é estabilidade (da Selic) em 14,25 por cento. Para 2016, a gente prevê a partir do segundo semestre um afrouxamento monetário, para 11,50 por cento no fim de 2016."
JOSÉ FRANCISCO DE LIMA GONÇALVES, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO FATOR
"Ao substituir 'no final de 2016' por 'horizonte relevante da política monetária', ele (Copom) reconhece que a trajetória de inflação não atinge o centro da meta no fim do próximo ano."
"A volta da expressão 'vigilante' para o comunicado, lembrando que ela estava presente na ata da última reunião, mantém espaço para alta na Selic, ainda que esse não seja o caminho mais provável."
NEWTON ROSA, ECONOMISTA-CHEFE, SULAMÉRICA INVESTIMENTOS
"Eu acho que eles vão buscar (convergência para a inflação em) 2017, eles vão estender o horizonte, consequentemente isso implica manutenção dessa taxa nesse patamar por mais tempo e reduz a possibilidade de uma alta nos juros em resposta à depreciação do câmbio recente."
"Eu acho que eles vão monitorar provavelmente a evolução das expectativas, principalmente para 2017 e só voltariam a subir os juros em algum momento lá na frente, em 2016, se essas expectativas começassem a se afastar muito dos 4,5 por cento."
"O que eu acho que pode acontecer (após essa mudança pelo BC) é manutenção dessa taxa atual por todo o ano de 2016."
ZEINA LATIF, ECONOMISTA-CHEFE, XP INVESTIMENTOS
"Não havia mais condição de o BC manter o mesmo guidance, a mesma sinalização... então eu acho que o BC agiu corretamente. A gente gostaria de ver inflação caindo de forma mais expressiva. Infelizmente, hoje subindo juros não necessariamente a gente vai ter bons resultado sobre inflação."
"Eu acho que a tendência de uma forma geral do mercado é compreender."
"Só (política) monetária para trazer inflação para a meta é complicado, precisa de mais fiscal. Acho que o BC não vai poder cortar juros tão cedo."
(Reportagem de Marcela Ayres, Silvio Cascione e Flavia Bohone)