SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central reduziu nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, a uma nova mínima histórica de 6% ao ano, e indicou que o processo de afrouxamento poderá seguir adiante. Este foi o primeiro corte na Selic desde março de 2018, quando a taxa passou de 6,75% para 6,5%.
Veja comentários de profissionais do mercado:
FLÁVIO SERRANO, ECONOMISTA-CHEFE, HAITONG BRAZIL
"Basicamente o Copom deixou a porta aberta para cortar na próxima reunião (em setembro). Ele não se compromete, mas ressalta que no geral você precisa de algum grau adicional de estímulo monetário. A decisão surpreendeu menos pelo corte de 50 pontos-base e mais porque, no caso de uma redução de 50 pontos-base, o BC poderia adotar um discurso mais comedido, e não foi o que aconteceu. O cenário pode permitir corte de mais de 100 pontos-base no total."
CARLOS PEDROSO, ECONOMISTA SÊNIOR, BANCO MUFG BRASIL
"O ponto diferente em relação ao comunicado anterior é justamente a abertura da possibilidade de novos cortes de juros. O Copom não se comprometeu com alívio de 25 pontos-base, nem de 50 pontos-base, mas o cenário com o qual trabalhamos hoje é de continuidade dos cortes da Selic. Os ruídos gerados com a decisão do Fed não mudam o cenário para a política monetária no Brasil, já que continuamos com atividade fraca e inflação abaixo da meta. E até setembro a reforma da Previdência já estará aprovada na Câmara. Ou seja, o balanço de riscos do Copom estará melhor. Estimamos Selic de 5,5% no fim do ano."
ZEINA LATIF, ECONOMISTA-CHEFE, XP INVESTIMENTOS
"O corte de 50 pontos-base mostra um BC convicto na estratégia. Mas nas últimas semanas o mercado aumentou aposta em corte de 50 pontos-base, então se o BC pensasse em fazer algo diferente teria ajustado essas expectativas, o que não aconteceu. A comunicação do Fed foi conservadora, mas aqui a reforma da Previdência --principal fator do balanço de riscos do BC-- foi aprovada em primeiro turno, e não deve haver desidratação relevante, o que mantém impacto fiscal robusto. Por ora, contudo, vou manter minha projeção de Selic a 5% no fim do ano, uma vez que ainda há incertezas."
ANNA REIS, ECONOMISTA-CHEFE, GAP ASSET MANAGEMENT
"A decisão não nos surprendeu, porque já trabalhávamos com corte de 50 pontos-base. O que surpreendeu foi o comunicado, que achamos um pouco confuso, com elementos 'dovish' e 'hawkish'. Entre os fatores 'dovish', as projeções de inflação e as referências a medidas de inflação subjacente confortáveis. Do lado mais cauteloso, o BC manteve no texto a classificação do risco sobre as reformas como preponderante e também manteve a avaliação sobre incertezas externas, apesar de acharmos que o cenário é benigno. O BC não falou em ciclo e escreveu 'ajuste adicional’, no singular, o que deixa uma pulga atrás da orelha sobre se haverá mais um corte ou mais cortes. Vamos esperar a ata e mantemos expectativa de Selic em 5% no fim do ano."
(Por José de Castro)