Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central cortou nesta quarta-feira a Selic em 0,50 ponto percentual, a uma nova mínima histórica de 3,75% ao ano, aumentando o ritmo de afrouxamento monetário em resposta aos impactos econômicos com o coronavírus, mas indicando que este deve ser o novo nível dos juros básicos daqui para frente. [nL1N2BB2V1]
Veja comentários de profissionais do mercado financeiro sobre a decisão e sinalização do colegiado do BC:
SERGIO GOLDENSTEIN, SÓCIO-GESTOR, MAUÁ CAPITAL
"Apesar de o cenário-base do BC prescrever cautela na política monetária, com estabilidade da Selic, deixou a porta aberta para novos movimentos ao reconhecer que 'se elevou a variância do seu balanço de riscos e novas informações sobre a conjuntura econômica serão essenciais'. Avalio que, para se abrir espaço para flexibilização adicional da política monetária, parte importante do overshooting cambial teria que ser revertida ou deveria existir um maior conforto com relação ao tamanho dos repasses da alta do câmbio para os preços. Nesse caso, considero que o BC poderia ser bem mais agressivo nas suas intervenções cambiais e reduzir ainda mais os compulsórios."
RAFAEL PANONKO, CHEFE DE ANÁLISES, TORO INVESTIMENTOS
"O BC deve ficar nos 3,75%. Tem toda uma discussão sobre a eficácia das ferramentas de política monetária nesse contexto de impactos do coronavírus, debate que está presente lá fora. Não sei se o Copom entende dessa forma, e estamos pessimistas sobre a amplitude dos impactos que o coronavírus vai provocar na economia doméstica. Não vejo uma queda do juro para 3% como algo que geraria um estímulo para retomada da economia. E, além disso, um desequilíbrio entre oferta e demanda de produtos nesse momento pode gerar inflação, então isso apoia um juro mais estável. Mas, se essa postura poderia dar alívio ao câmbio, vai permanecer a dúvida sobre uma rediscussão potencial sobre novos cortes da Selic em caso de um declínio maior da economia. Dito isso, o fluxo comprador de dólar vai seguir amanhã."
ADRIANO CANTREVA, SÓCIO, PORTOFINO INVESTIMENTOS
"Acho que ele poderia ter cortado 0,75 ponto, corte entre 1 ponto e 0,50 ponto. Isso pode desapontar alguns, mas na verdade o BC dificilmente conseguiria agradar a todos. Por isso, preferiam ser mais cautelosos. Mas a porta para mais cortes não está fechada. Se necessário eles (BC) vão fazer algo mais forte. Porém, caso o pacote de ajuda econômica nos EUA seja fechado, pode ser que o mercado acalme nas próximas semanas e o BC não seja forçado a reduzir mais a Selic."
CARLOS PEDROSO, ECONOMISTA SÊNIOR, BANCO MUFG BRASIL
"Parece que depois desse comunicado o BC cortou 0,50 ponto e vai parar. O BC está olhando para a inclinação da curva de juros, que aumentou recentemente. O câmbio entra nessa conta também, porque está muito pressionado e por mais que isso (a desvalorização) seja uma questão global pode resultar em inflação no futuro, inflação de custo mesmo, e as projeções de inflação do BC nos dois cenários já não mostram tanta margem de manobra. No geral, acho que o BC conseguiu comunicar os pontos relacionados ao câmbio, à curva de juros, não dá para não ter um diferencial de juros para o real agora. Mas o mercado espera uma atuação mais firme do BC no câmbio. Então não necessariamente o dólar deveria desvalorizar amanhã por causa do Copom."
HOMERO GUIZZO, ECONOMISTA, GUIDE INVESTIMENTOS
"Se as condições piorarem muito o BC volta a cortar os juros, mas esse não é o cenário-base, achamos que ele cortou agora 0,50 ponto e vai parar. A partir de agora acredito que o BC vai se concentrar na estabilidade financeira, dar liquidez ao mercado de câmbio, até para garantir que todo esse estímulo monetário chegue ao tomador final na forma de crédito mais acessível. As medidas de estímulo agora serão macroprudenciais."