Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O volume de serviços no Brasil cresceu bem mais do que o esperado em dezembro e alcançou o maior patamar da série histórica, terminando 2022 com ganhos pelos segundo ano seguido ainda na esteira da reabertura econômica.
Em dezembro o setor de serviços brasileiro registrou alta de 3,1% na comparação com o mês anterior, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado interrompeu dois meses seguidos de quedas e ainda ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 1,0%.
Com isso, o setor de serviços fechou 2022 com alta acumulada de 8,3% e passou a ficar 14,4% acima do nível de fevereiro de 2020, pré-pandemia, e alcançou patamar recorde na série histórica, iniciada em 2011. Em 2021 o setor apresentou expansão de 10,9%.
Na comparação com dezembro do ano anterior, houve expansão de 6,0%, enquanto economistas esperavam alta de 3,9%.
Os serviços apresentaram fôlego no ano passado com a reabertura da economia após a pandemia de Covid-19, mas esse impulso tende a se esgotar conforme pesam com mais força os efeitos do aperto da política monetária.
"Serviços mostraram ao longo de 2022 mais resiliência que comércio e indústria, que já vinham acusando os efeitos negativos da alta taxa de juros e da desaceleração da economia global", disse Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em nota.
"Assim como outros setores da economia, serviços também devem começar a sentir mais fortemente os efeitos tardios da elevação da taxa de juros e da desaceleração da economia global. Por isso, daqui para a frente, devemos ver serviços andando de lado ou até contraindo."
O IBGE destacou em dezembro o desempenho do setor de transportes, com alta de 2,5% sobre o mês anterior. Também contribuiu para o resultado a alta de 10,3% do segmento de outros serviços (10,3%).
O ramo de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio também foi destaque em todo o ano de 2022, com avanço acumulado no volume de serviços de 13,3%, exercendo a principal influência.
“O setor de transportes cresce desde 2020, mas com dinâmica diferente: inicialmente, por causa da área de logística, com alta nos serviços de entrega, em substituição às compras presenciais", explicou o analista da pesquisa, Luiz Almeida.
"Já em 2022, há a manutenção da influência do transporte de carga, puxado pela produção agrícola, mas também pela reabertura e a retomada das atividades turísticas, impactando o índice no transporte de passageiro”, completou.
Serviços profissionais, administrativos e complementares foi o segundo setor com maior impacto no resultado de 2022, ao registrar expansão de 7,7%.
O desempenho dos serviços no ano passado destoou do da indústria, que fechou 2022 com perdas de 0,7%, e do varejo, que teve alta de apenas 1,0% nas vendas.
“A recuperação (de serviços) foi mais rápida do que em outros segmentos da economia porque setores como transporte se tornaram mais dinâmicos com o boom do comércio eletrônico e da cadeia logística", explicou Almeida.
“Por esses motivos (serviços) vivem um momento melhor que demais atividades", completou.
O índice de atividades turísticas, por sua vez, cresceu 4,1% em dezembro e apresentou alta de 29,9% no acumulado do ano de 2022. O setor está 1,5% acima do patamar pré-pandemia e 5,5% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em fevereiro de 2014.