Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A atividade no setor de serviços brasileiro cresceu pelo quinto mês consecutivo em outubro e no segundo ritmo mais forte em nove anos e meio, mas a taxa de inflação de preços cobrados bateu recorde, o que afetou medidas de expectativas e deixa em dúvida a recuperação dos negócios.
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) subiu a 54,9 em outubro, de 54,6 em setembro. O indicador, portanto, aponta crescimento da atividade do setor, já que está acima de 50. Além disso, o número de 54,9 é um dos mais altos desde o início de 2012.
Segundo a IHS Markit, empresa que compila os dados, o aumento foi bastante associado ao crescimento da cobertura vacinal, à redução de casos de Covid-19 e à subida do volume de novos pedidos --estes cresceram pelo sexto mês consecutivo, embora na velocidade mais lenta em quatro meses.
O crescimento das vendas se deu apesar do salto dos preços cobrados na prestação dos serviços, o mais acentuado nos quase 15 anos de coleta de dados.
A escalada foi ditada por elevações crescentes nos custos dos insumos --em outubro à segunda taxa mais alta da história, atrás somente da registrada em setembro.
Segundo a IHS Markit, os participantes da pesquisa citaram a alta dos preços de energia, alimentos, combustível, gás, itens de higiene, EPI (equipamentos de proteção individual) e aluguéis como vilões, além da valorização do dólar.
Os produtos básicos têm estado escassos em todo o mundo e no centro dos debates acerca da alta global da inflação, que tem alimentado expectativas de aperto monetário nas principais economias.
E o impulso à inflação --com riscos de persistir-- tem preocupado empresários, ofuscando, assim, os números fortes de atividade no setor de serviços no mês passado.
"Embora o setor de serviços tenha apresentado bom desempenho, os fabricantes tiveram dificuldade para garantir pedidos, devido às interrupções na cadeia de suprimentos e às pressões sobre os preços", disse Pollyanna De Lima, diretora associada de Economia da IHS Markit.
De acordo com a pesquisa, o receio é que as elevadas pressões de preços e o consequente declínio no poder de compra possam limitar a demanda e a produção no próximo ano. Esses fatores já haviam pesado sobre os negócios no setor manufatureiro, cujo crescimento em outubro foi o mais lento em 16 meses.
Com isso, o PMI composto --uma média ponderada dos índices para os segmentos de serviços e manufatura-- desceu a 53,4, de 54,7 em setembro. O número ainda indica aumento "consistente" da produção do setor privado, mas na menor velocidade em cinco meses.
Mas a confiança entre as empresas do setor privado arrefeceu em outubro, com o nível geral de sentimento positivo indo ao menor patamar em três meses e declínios "evidentes" entre fabricantes e prestadores de serviços.
"As empresas em ambos os segmentos se mostraram menos otimistas em relação ao futuro, com as preocupações com relação ao aumento das despesas, a escassez de matéria-prima, a queda do poder de compra e as eleições gerais de 2022 reduzindo o sentimento", disse De Lima.
Os dados foram coletados entre 12 e 26 de outubro de 2021.
(Edição de Luana Maria Benedito)