Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) -O setor público consolidado brasileiro registrou superávit primário de 12,933 bilhões de reais em setembro, muito acima do esperado, com o déficit primário em 12 meses recuando expressivamente a 0,63% do Produto Interno Bruto (PIB), menor patamar desde setembro de 2015 (0,43% do PIB).
O recuo foi de quase 1 ponto percentual na comparação com déficit primário de 1,57% no acumulado até agosto, conforme dados divulgados nesta sexta-feira pelo Banco Central.
Este foi o segundo mês consecutivo em que as contas públicas fecharam no azul, no resultado mais forte para setembro desde 2010, quando houve superávit de 28,157 bilhões de reais.
Em pesquisa Reuters, a expectativa era de superávit primário mais modesto, de 3 bilhões de reais no mês.
Assim como em agosto, o resultado foi guiado fundamentalmente pelo desempenho positivo dos governos regionais: o superávit primário dos Estados foi de 7,265 bilhões de reais e o dos municípios, de 3,174 bilhões de reais.
O governo central, formado por governo federal, Banco Central e INSS, teve superávit de 708 milhões de reais, com impulso da arrecadação recorde em setembro, conforme já havia sido divulgado pelo Tesouro na véspera.
Contribuindo para o dado geral, as empresas estatais também fecharam setembro com resultado positivo de 1,786 bilhão de reais.
A dívida bruta do país ficou em 83,0% do PIB em setembro, acima de expectativa do mercado de 82,6% e do patamar de 82,7% em agosto.
Por sua vez, a dívida líquida foi a 58,5% do PIB, abaixo do nível de 59,4% do mês anterior.
Nos nove primeiros meses do ano, o governo teve superávit primário de 14,171 bilhões de reais, frente a um déficit de 635,926 bilhões de reais em igual etapa de 2020, período fortemente afetado pelos gastos extraordinários associados à pandemia de Covid-19.
O Ministério da Economia tem buscado ressaltar que as contas públicas têm surpreendido positivamente na esteira da recuperação econômica, embora alguns agentes associem a melhora da arrecadação a variáveis que podem não se sustentar no futuro, como a alta das commodities e do dólar frente ao real.
Pelo lado das despesas, a melhoria tem sido ajudada pelo congelamento de salários do funcionalismo público, medida implementada como contrapartida à injeção de recursos da União a Estados e municípios no ano passado, mas que pode ser revertida em meio a apelos da categoria por reposição diante da perda do poder de compra com a aceleração da inflação, pleito que ganha mais força com a proximidade das eleições.
(Por Marcela Ayres; Edição de José de Castro)