Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar, estimou nesta quinta-feira que a taxa de desemprego no país pode até dobrar por conta dos impactos da crise do coronavírus na economia, e fez forte apelo por uma retomada econômica baseada na atração de investimentos privados.
"No Brasil a gente já estava com taxa de desemprego elevado. Presume-se que esse desemprego anterior possa aumentar entre 50% a 100% do que era a taxa anterior", afirmou ele, em live promovida pelo banco Credit Suisse.
"Nós só vamos saber disso nos meses de julho, agosto, para verificar qual o tamanho do estrago do coronavírus no Brasil", completou.
A taxa de desemprego fechou o primeiro trimestre em 12,2%, com 12,85 milhões de desempregados no país, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta manhã. Ela subiu frente ao patamar de 11,0% registrado no quarto trimestre de 2019, mas ficou abaixo da expectativa de 12,5% conforme pesquisa da Reuters com analistas.
Para a retomada da economia após o impacto mais frontal da crise, Salim afirmou que o presidente Jair Bolsonaro tem rediscutido desestatizações com a equipe econômica e que é preciso sim retomar as obras no país, mas com dinheiro privado.
Questionado sobre o Plano Pró-Brasil, que foi anunciado na semana passada sem a presença de integrantes do time econômico e que previu aporte de recursos públicos para infraestrutura, Salim avaliou que "as pessoas são boas, querem contribuir", mas que "inferno está cheio de gente com boas intenções".
Segundo Salim, o ministro da Economia, Paulo Guedes, está "muito, muito sólido" e conta com apoio total de Bolsonaro, ecoando esforços recentes de integrantes do governo de reforçar essa mensagem após o mercado ter reagido ao desalinhamento interno exposto pela divulgação do Pró-Brasil. "É necessário retomar o investimento em infraestrutura? É. Com dinheiro público? Não. Tem que ser dinheiro privado", disse.
De acordo com a Salim a venda de ativos, incluindo estatais, precisa ganhar tração para diminuir a dívida, já que as ações demandadas para o enfrentamento ao Covid-19 vão pressionar significativamente o endividamento do país.
"Teremos dívida monstruosa. Se tivermos taxa de juros civilizada vai ser mais palatável essa dívida. Se tivermos problema com taxa de juros, isso vai ser desastroso", disse. O secretário afirmou que o governo precisa trabalhar para atrair e dar segurança para o investidor privado, num momento em que há recursos sobrando no mundo. Nesse sentido, ele disse que as licenças para obras têm que ser mais ágeis e destacou que é preciso pensar numa solução para insegurança do investidor estrangeiro em relação à variação do dólar.
VENDA DE ATIVOS
O secretário afirmou que o coronavírus acabou interrompendo processos de venda de ativos que estavam encaminhados, como a listagem em bolsa de duas subsidiárias da Caixa Econômica Federal, a Caixa Seguridade e a Caixa Cartões.
"Era previsto que superassem 100 bilhões de reais", pontuou ele, em referência à avaliação do valor das companhias.
Salim afirmou que ficava desde o ano passado "no pé" do ex-presidente do BNDES Joaquim Levy para a venda de ativos detidos pelo braço de participações do banco, a BNDESPar. De acordo com o secretário, a entrada do atual presidente da instituição, Gustavo Montezano, "mudou completamente o quadro" para acelerar esse processo.
Passada a crise, a ideia é que o banco se desfaça de todas as suas participações na BNDESPar, disse Salim.
Sobre a venda de estatais, ele reforçou que o governo voltará a conversar com parlamentares sobre o projeto de lei para privatização da Eletrobras (SA:ELET3) a partir de junho ou julho, mirando a aprovação do texto neste ano e realização da operação em 2021.
"Isso precisa de rearranjo político, esse governo não tem maioria", disse.
Salim reiterou que, junto com Guedes, tem grande tarefa de convencer os ministros setoristas para a venda de estatais, mas frisou que este não é um trabalho fácil.
"Eu sou louco pra vender estatal, mas tem todo um procedimento a ser seguido", disse ele, lembrando que a venda das empresas controladas pela União levou uma média de 45 meses a partir de 2002.