Os juro futuros encerraram a terça-feira em queda, principalmente as taxas longas, reflexo da melhora do apetite global pelo risco. A inflação no atacado nos Estados Unidos abaixo do consenso fortaleceu as apostas sobre o corte de juros pelo Federal Reserve. O câmbio, variável considerada chave para a reancoragem das expectativas de inflação, ajudou, com o dólar fechando abaixo dos R$ 5,45.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,730%, de 10,748% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,54% para 11,38%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,33%, de 11,54% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 cedia a 11,40%, de 11,59%.
Pela manhã, as taxas longas já estavam em baixa, mas as curtas e intermediárias mostravam maior resistência, operando em leve alta ou perto da estabilidade, ainda em função das declarações "hawkish" do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, dadas ontem, e da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que trouxe crescimento do volume muito acima da mediana das estimativas. À tarde, a ponta longa ampliou o ritmo de queda e as demais também passaram a cair.
O economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca, atribui o comportamento das taxas nesta sessão a um conjunto de fatores. "É uma combinação do ambiente externo, dado o encaminhamento do corte de juros pelo Fed, com a redução dos ruídos locais", afirma. Ele também vê contribuição importante para a redução dos níveis de inclinação da sinalização recente do Banco Central, que, diz Fonseca, "está avisando que vai subir juros em setembro".
Galípolo, na sexta-feira, esclareceu que vê o balanço de risco da inflação como assimétrico e ontem disse que uma alta da Selic "está na mesa do Copom", que está na dependência dos dados. Hoje, ele participou hoje de evento no Rio, mas não abordou a política monetária.
Na audiência da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, Campos Neto hoje reiterou o compromisso com o cumprimento das metas de inflação, reconheceu que a desancoragem das expectativas de inflação preocupa e citou o debate sobre a relação entre mercado de trabalho apertado e inflação de serviços. "Até agora a gente tem sido capaz de ter um crescimento maior do que o esperado, com números de mão de obra muito bons, muito satisfatórios, ainda sem uma pressão muito grande na parte de serviços, mas a gente começa a ver que tem uma pressão", disse.
A pesquisa de serviços de junho, divulgada pelo IBGE, corrobora a percepção de atividade fortalecida no segundo trimestre, mesmo com a revisão em baixa em meses anteriores. O volume cresceu 1,7% em junho,atingindo a máxima da série histórica e superando com folga o consenso de aumento de 0,9%.
Do exterior, o alívio veio do índice de preços ao produtor (PPI, em inglês) nos Estados Unidos, que subiu 0,1% em julho, ante consenso de 0,2%. O número animou o mercado para o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês), amanhã, e para o qual as projeções são de 0,3% (mensal) e 3,0% (anual). Os rendimentos dos Treasuries recuaram com a perspectiva crescente de alívio da política monetária americana, com a taxa da T-Note de dez anos rodando abaixo de 3,85% no fim da tarde.
Segundo Fonseca, da Reag, o lado fiscal também colaborou hoje para o desenho da curva, com a perspectiva de apreciação ainda nesta semana das pautas que estão no Senado. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que pretende votar nos próximos dias os projetos de lei da renegociação das dívidas dos Estados com a União e da desoneração da folha de pagamentos.